sábado, 18 de julho de 2015

CAPÍTULO 21 - "LOVE IS A FUNNY THING..."


No capítulo anterior:

A minha miúda tinha pedido a tarde de folga sem me dizer nada, queimou calorias até dizer chega no ginásio e agora está a limpar vidros na minha casa, ou seja, ela precisa MESMO de mim.

Lado a lado com ela, coloquei a mão no ombro dela, tirei o fone do ouvido e sussurrei:

- Eu estou aqui, amor.

Se eu dissesse que estava preocupado com ela até aí, depois de ver os olhos dela tão vermelhos e o rosto lavado em lágrimas diria que essa mesma preocupação aumentou umas 10 vezes mais. Aqueles olhos diziam que ela estava no foço e o abraço sufocante dela em mim era mais uma prova disso mesmo. Eu só queria poder aliviar aquele sofrimento...

 

 

(INÊS)

            Eu não sei o que estava a fazer ali, no apartamento do Pedro, só sei que nem o ginásio, nem a dança foram o suficiente para me acalmar e limpar vidros, sempre é bom quando eu estou neste estado. Agora, porque é que eu fui para a casa do Pedro? Não sei, eu nem tinha raciocinado, eu simplesmente fiz aquilo que me apetecia realmente. A verdade é que eu precisava dele, precisava de desabafar, precisava de ouvir as palavras de conforto dele e, acima de tudo, precisava de saber que ele me amaria e ficaria comigo apesar da nova realidade.

            Ao ouvir ele sussurrar-me ao ouvido que estava ali comigo, as lágrimas só aumentaram, os meus olhos pareciam duas cascatas, duas torneiras que eu não conseguia mais fechar. Abracei-me a ele com muita força e chorei até não conseguir mais… Eu tinha noção que estava a deixá-lo preocupadíssimo, mas eu tinha que me acalmar primeiro, para conseguir contar-lhe tudo.

            - O que é que se passa aqui? – Escutei a voz de uma mulher adulta atrás de mim. E quando olho na direção da voz, vejo um casal a olhar fixa e seriamente para nós dois.

            - Mãe, pai, esta é a mulher da minha vida, a minha namorada Inês. Amor, estes são os meus pais…

            É óbvio que eu entrei em choque, eu não sabia como reagir. Eu estava a conhecer os pais do Pedro, já tinha imaginado isso, mas nunca pensei que estaria naquela apresentação ridícula. Senti-me ainda mais estúpida ao olhar para o meu namorado e os pais dele e não ter percebido que eram família, haviam traços que não negavam esse facto, a genética não falha.

            - Desculpem a apresentação, prazer em conhecer-vos… - Cumprimentei com um fraco sorriso no rosto. – Amor, desculpa isto tudo… Quando puderes, passas lá em casa? – Perguntei enquanto me preparava para sair.

            - O prazer é nosso, queríamos saber quem era a rapariga que conseguiu o impossível, tornar o nosso filho caseiro. Por favor, fique por aqui! – Falou o pai do Pedro, o que foi muito querido.

            - Obrigada, mas eu hoje não sou grande companhia… - Confessei, com um pequeno sorriso no canto da boca.

            - Inês, sem discussões, por favor… Vai tomar um banho, veste uma roupa qualquer e depois, se quiseres, dormes um pouco no meu quarto ou podes vir ter aqui connosco. Faz isso, por mim… Eu não fico descansado se fores embora, além disso os meus pais, não tarda, devem ir embora.

            - Sim, nós temos de ir, ainda há um longo caminho pela frente e eu estou cansada – Murmurou a mãe do Pedro sem olhar para mim.

            Era percetível para qualquer um que a mãe do Pedro não tinha simpatizado comigo, ao contrário do Sr. Rebocho que foi bastante educado e sorridente para mim. O charme todo do meu namorado devia vir do lado paterno, aquele olhar caloroso e que era capaz de fazer qualquer um sorrir. Em contrapartida, eu não podia culpar a senhora de não ter gostado muito de mim, o meu aspeto devia ser de uma criança de rua… Provavelmente, seria muito difícil eu conseguir conquistar a minha “sogrinha”, afinal será que as sogras são mesmo o inimigo natural de qualquer humano?

            Rapidamente me despedi do casal e fui tomar banho, eles precisavam de um momento em família e eu não podia arruinar mais aquilo.

 

(PEDRO)

            Eu amava os meus pais, eles eram a minha base. Tudo o que eu sou hoje, eu devo a eles… Mas, a minha namorada era a minha prioridade naquele momento, ela necessitava mais de mim que eles e eu necessitava mais de saber o que se passava com ela, do que estar com os meus progenitores. A minha mãe não facilitou, ela odeia surpresas deste tipo, ela é muito complicada quando se trata de conhecer mulheres na minha vida, ela era demasiado protetora em relação a mim e muito ciumenta…

            - Pedro, meu filho, eu não gostei de nada disto. Eu já percebi porque é que tu te tornaste mais caseiro, só esta mulher já te deve dar problemas suficientes… - Comentou a minha mãe, com certo desprezo na voz. Ela sabe que eu odeio aquele tom quando fala de pessoas que eu gosto…

            - Oh, querida, não sejas assim… Até parece que estás a dizer que a rapariga é demasiada areia para a camionete do nosso filho. Rapaz, tu acertaste desta vez, que mulherão é aquele? – Brincadeiras para aliviar o clima? Típico do meu exemplo de vida, o meu pai. Agradeci mentalmente o facto de ele estar do meu lado, mais uma vez.

            - Desculpem a confusão, mas eu garanto-vos que a Inês não é assim. Eu estou aterrorizado com o que possa ter acontecido, aquela mulher não é de demonstrar fraqueza… Mãe, dá uma oportunidade de conheceres a minha namorada. É muito importante para mim, saber que vocês aprovam a nossa relação. Ela é tudo para mim! – Confessei, na esperança de derreter o coração da minha mãe. Nada que com um olhar de cachorro perdido a completar não ajude…

            - Tudo bem, quero-vos em breve lá em casa, para ver se eu conheço essa Inês. Tu estás feliz e é isso que importa.

 

(INÊS)

            Eu mantive-me durante longos minutos sentada na borda da cama do Pedro, sem conseguir falar nada. O meu namorado, sem me pressionar, estava deitado na cama, à espera que eu estivesse pronta para contar-lhe o que se passava. Se há algo que eu admiro, é o facto de nós nos conhecermos bem o suficiente, para percebermos o que é melhor um para o outro, sem ser necessário falar. Eu amo-o profunda e loucamente, algo que é totalmente recíproco.

            - Pê, eu hoje fui ao hospital fazer exames… - Sussurrei de repente. Eu tinha de começar por algum lado, eu tinha de desabafar, ele tinha de saber e, se eu não falasse, eu explodia.

            - Porquê? – Perguntou baixinho, mas já junto a mim.

            - Eu andava a sentir algumas dores no fundo da barriga e no abdómen, andava meio nauseada e demasiado cansada. É melhor começar pelo início, não? Bem, eu quando estive internada no hospital, a certa altura, para controlar as hemorragias, recebi doses consideráveis de hormonas… O problema é que isso trouxe consequências e eu desenvolvi uma pequena doença, a endometriose. De forma resumida, é o crescimento de tecido do endométrio em zonas fora do útero. Eu sabia que corria esse risco quando concordei com as doses de hormonas, mas era a melhor solução. – Eu falava sem parar, estava muito nervosa e o Pedro não me iria interromper, pelo menos até chegar ao meu maior medo. – Assim que foi possível, eu comecei um tratamento para combater esta doença de forma “leve”, tomando analgésicos, como o Ibuprofeno. Ontem o Gonçalo ligou-me, eu tinha que repetir exames para ver como eu estava. Eu tentei adiar ao máximo esses mesmos exames porque eu tinha receio do resultado que poderia vir, eu queria ter coragem para fazê-los e não recear que o resultado fosse um dos meus maiores medos… Porém, como as dores voltaram, eu não tinha como fugir mais e hoje fiz os tais exames com urgência.

            - Inês, vai ficar tudo bem… Tu já passaste por pior, eu estarei sempre aqui contigo! – Murmurou, beijando a minha testa e segurou firmemente no meu rosto. Olhando nos olhos dele, eu teria de lhe contar o resultado.

            - Amor, a doença agravou e os analgésicos já não serão suficientes, terei que ser operada rapidamente…

            - Não tem mal, é só mais uma operação… - Consolou-me sorrindo.

            - Eu posso nunca conseguir engravidar, esse é o verdadeiro problema! – Gritei e vi o pânico tomar finalmente posse dos olhos dele. – Não poderei concretizar um sonho meu, um sonho nosso. Eu talvez nunca consiga dar-te um filho, como já tanto sonhei… Tu percebeste o porquê do pânico agora? Vais querer continuar com alguém que não pode concretizar o teu sonho? Eu não te quero prender assim a mim, tu nunca serás completamente feliz! Eu não posso acabar com todos os teus sonhos e ambições! Porque haverias de ficar comigo? Eu sou uma doente e tu és perfeito, porque ficarias comigo? Eu não te condeno… Muito pelo contrário, tu tens de lutar pelos teus sonhos e ser pai é um deles. Não, adotar não é a mesma coisa, nunca será sangue do teu sangue, nunca será um sonho realizado completamente…

            Eu chorava compulsivamente outra vez, eu estava encostada a uma parede aos murros, eu estava totalmente descontrolada. O Pedro era a rocha do nosso relacionamento, a minha âncora. Se ele estava bem, eu estava bem; se ele se sentia feliz, eu sentia-me feliz; se ele estava triste, eu ficava triste; se ele se sentia perdido, eu sentia-me sem rumo algum; se ele me deixasse, eu já não era nada. A verdade é que eu demonstrei ter-me tornado uma pessoa bastante doente ou, melhor dizendo, depois daquela doença rara, que fui curada graças a ele, eu tinha várias sequelas. E essas sequelas irão aparecer uma a uma, eu era uma pequena bomba relógio. Ninguém saberia quando uma nova sequela desse sinal de existência… Eu não poderia obrigar o Pedro a ter que viver com isto, ele merece mais e melhor, ele merece ser totalmente feliz. Ele merece tudo e eu não sou esse tudo. Estar com ele, tinha-se tornado a melhor vivência da minha vida, mas eu teria que deixá-lo, eu teria que assistir à decisão dele de procurar alguém “do seu nível”, alguém que o complete, alguém que não lhe arranje tantas confusões…

            - Shhh, minha pequena, vai ficar tudo bem… Eu só poderei ser feliz, contigo a meu lado. Se for preciso, recorremos mais tarde a ajuda para engravidares… Não te preocupes tanto com o futuro, preocupa-te apenas com o agora. Eu amo-te demais para te perder, anjo! – Murmurou no meu ouvido, agarrando os meus pulsos por trás e impedindo-me de me ferir mais.

            - Tu não percebes, tu depois arrependeste se não realizares o teu sonho por minha culpa! – Sussurrei, soluçando alto.

            - Aí é que te enganas, - Falou de sorriso no rosto, virando o meu corpo para o seu - TU és o meu sonho tornado realidade, TU és o meu futuro. Eu não conseguirei viver sem ti, meu mulherão. TU és o meu TUDO, já nada faz sentido sem ti. TU és “A tal”. TU és o meu amor verdadeiro. Como é que eu sobreviveria sem te ter?

            Entre confissões, beijos e muitas lágrimas minhas, nós fizemos amor, para tentar sarar as nossas feridas e mostrar que não seria possível encontrarmos outra ligação tão forte como a que nós temos com outras pessoas. Afinal, o verdadeiro amor existe e nós só “Zingamos” uma vez na vida, nós somos o “Zing” um do outro sem dúvida.


 
 
 
Olá! Tudo bem?
Não é que haja muitos comentários (Muito Obrigada a quem tem a coragem de comentar, é MUITO importante para mim ter feedback vosso), mas decidi escrever mais um pouco e publicar.
Até breve!
 
Beijinhos,
Rita B.

terça-feira, 14 de julho de 2015

CAPÍTULO 20 - "LOVE IS A FUNNY THING..."


No capítulo anterior:

Segunda-feira de manhã tem sempre aquela pequena confusão na parte da fisioterapia, depois do jogo temos de dar uma vista de olhos nos jogadores que apresentam algumas queixas e, se necessário intervir, sem deixar que possam agravar alguma lesão. Estava tão concentrada no trabalho que nem dei pelo passar das horas e só acordei para a realidade quando vejo a Diana ao meu lado a dizer que tínhamos de ir almoçar.

O almoço foi recheado de conversa, desde assuntos como a meteorologia, roupa, futebol, até que eu decido tocar no assunto que eu mais queria falar e fui direita a ele:

            - Di, o que é que há entre ti e o meu primo?

 

 

            Eu vi a expressão facial da minha melhor amiga mudar, deixou de ter essencialmente tranquilidade espelhada no rosto para ter algum receio. Até agora eu achava que estava minimamente a par da situação deles, devido a conversas quer com ambas as partes. Só faltava uma pequena atualização e a Diana estava com medo da minha reação…

            - Entre mim e o Kiko? – Perguntou ela, enquanto enrolava um pequeno grupo de cabelos, uma pequena prova que ela estava nervosa.

            - Desenvolve… Eu sei que eras tu na foto que ele publicou no fim-de-semana, eu sei que vocês já curtiram várias vezes… Vá lá, amiga, conta-me mais pormenores! – Exclamei morrendo de curiosidade. Claramente visualizei a minha deusa interior na sua cadeira de baloiço, as agulhas e o tricot nas mãos, os pequenos óculos ao fundo do nariz e ela a espreitar por cima dos óculos, com aquele ar de velha cusca.

            - Oh Nê, porque é que o teu primo tinha de ser tão giro, querido e bom? – Perguntou bufando, o que me levou a gargalhar. – A sério, eu não o consigo tirar da cabeça, ele deixa-me doida… Não existe propriamente um “nós”, andamos juntos e ficamos exclusivamente um com o outro.

            - Tem calma, esse é o primeiro passo, quem sabe o próximo não será um namoro… - Confessei, sonhando que aquelas duas pessoas tão importantes para mim ficassem juntinhas.

            - Não sei. O teu primo não é de compromissos sérios e eu não quero sofrer mais por causa de homens… - Murmurou cabisbaixa.

            - Tu sabes, os dois grandes inimigos das mulheres começam por “h”, são os homens e as hormonas. – Comentei, fazendo uma careta.

            Por muito que eu quisesse empurrar aqueles dois para os braços um do outro, eu não podia meter-me demasiado, se der asneira, não convém eu estar envolvida. Esta é a opinião do Pedro, deixá-los fazer tudo ao ritmo deles e da maneira que eles acham mais correta. Mas, por outro lado, se eles não avançarem com medo ou por casmurrice? E se eles desperdiçarem a chance de ficar com “o seu grande amor”, se eles perderem o seu “felizes para sempre”? Eu queria ajudar, porém não queria atrapalhar… Tenho de ficar atenta e de olho neles, essa é a melhor decisão a ser tomada, acho eu…

 

            Já era de noite quando eu saí do ginásio de regresso a casa, eu estava estoirada, só queria um banho bem relaxante e dormir. Ao entrar no apartamento ouço muitas risadas e diferentes vozes, pessoalmente eu não queria confusão agora em casa, mas o que posso fazer? Em primeiro lugar, o apartamento é do meu primo, apesar de eu contribuir nas contas e lidas domésticas, etc, a casa é dele. Depois, como não moro sozinha, sujeito me a coisas destas. Apesar de tudo, já tinha um pequeno sorriso amarelo montado no rosto, eu teria que ser minimamente simpática, podia não fazer festa com a visita de pessoas, mas eu sou educada. Na sala, deparo-me com três homens: o meu primo, o meu namorado e…

            - EU NÃO ACREDITOOOO!!!! O QUE É QUE TU ESTÁS A FAZER AQUI?! – Gritei ao ver, nada mais, nada menos que o meu melhor amigo. – Preto do meu coração! – Exclamei atirando-me literalmente para o colo dele. Os rapazes só sabiam rir e eu não conseguia conter a minha alegria e animação. – O que é que estás a fazer aqui, meu amor?

            - Eu sei que tu és levezinha, mas escusas de me esborrachar assim, boneca. Eu recebi uma proposta de trabalho, então a empresa transferiu-me e voilà, aqui estou eu! – Comentou sorrindo.

            - Quer dizer, que tu vais ficar por cá para valer? – Perguntei, cheia de esperança.

            - Sim, loirão, nem ao vires para Lisboa te viste livre de mim… - Brincou, abraçou-me apertado e mordeu a minha bochecha.

            Em questão de minutos, consegui convencê-lo a vir para o meu grupo de dança, a dançar novamente a meu lado num grupo, já que ele precisa da dança para conseguir viver, tal como eu. Tudo bem, está na hora de explicar quem é o meu preto. O Jorge Barbosa, vulgarmente chamado Jójó, é um jovem mulato que nasceu no Brasil e com apenas 3 anos veio com os pais para Portugal. Ele é a maior personagem que eu já conheci, é o meu melhor amigo e era o meu maior companheiro de dança e atuação, não consigo viver sem ele. No Porto, ele praticamente vivia em minha casa, os meus pais tratavam-no como um filho e ele era o meu apoio para tudo, ele estava sempre lá, longe ou perto, ele estaria sempre comigo. Segundo ele, se a dança nos juntou, só a morte nos pode separar e ao que parece, o destino decidiu que nós precisávamos de viver perto um do outro e juntos noutra cidade. Para além de ser o meu apoio incondicional, o Jójó é o amigo que qualquer mulher quer ter, compreende tanto o lado masculino, como o feminino. Ele é a companhia perfeita para ir às compras, por exemplo, gosta de moda, gosta de compras e sabe dar dicas sensacionais no que fica bem, ou menos bem, numa mulher. Se ainda resta dúvidas para alguém, o Jójó é bissexual, ou seja, praticamente que podemos dizer que “tudo o que vem à rede é peixe”, pelo menos em teoria é assim, na prática nem tanto. O meu amigo tem uma preferência em relações por homens, mas não aguenta muito tempo sem ter sexo com uma mulher, é uma necessidade dele. A verdade é que eu fui das poucas mulheres que ele insistiu bastante para tentar algo, nem que fosse um beijo, e nunca conseguiu nada, talvez assim é que conseguimos nos tornar verdadeiramente amigos, nunca houve uma relação entre nós para além disso...

 

            Mais uma semana já ia quase no fim e tudo parecia estar a correr bem há minha volta, eu tinha namorado, emprego, bons e grandes amigos por perto, mas desde a tarde anterior que eu andava com uma agonia enorme dentro de mim. Eu tinha andado meio indisposta e umas dores na zona abdominal (mais ou menos) regressaram, o que me deixou um pouco preocupada, mas, como sempre, tentei não dar demasiada importância a isso até receber um telefonema do Dr. Gonçalo, o médico que tratou de mim no Porto, o meu médico.

 

FLASHBACK:

            Estava deitadinha no sofá, com a televisão ligada num filme qualquer, a tentar distrair e descansar a minha cabeça, quando vejo o meu telemóvel a tocar. No ecrã, visualizo o contacto do Dr. Gonçalo e fico surpresa com a ligação, mas logo atendo:

            - Já com saudades, Dr.? – Perguntei na brincadeira.

            - Inês, quando é que estás a pensar fazer Aquele exame? Não podes adiar muito mais, tu tens de ver como estás para eu conseguir ter a minha paciente favorita a 100%... Eu sei que tens receio, mas tu precisas de fazer mesmo esse exame! – Falou meio impaciente e preocupado.

            - Gonçalo, eu agora não tenho como ir aí ao Porto… Eu sei que tenho de fazer o exame e URGENTEMENTE, as dores voltaram – Desabafei num tom de voz muito baixo.

            - Ok, não tenho outra solução. Eu vou falar com um amigo meu, tu vais ao hospital ter com ele, fazes o exame e ele envia-mo logo. Se for algo muito grave, eu tento ir aí para a semana e levo-te “à faca”…

 

 

(PEDRO)

            O meu treino da tarde acabou e eu fui em direção à zona da fisioterapia com o Francisco, íamos ter com a Inês de surpresa, mas ela não estava lá. Eu achei muito estranho, mas essa sensação só piorou quando me disseram que ela não estava porque tinha pedido a tarde de folga e não me disse nada. Eu sei que ela não me deve justificações, nem ao primo, mas ela não é assim, ela teria dito algo. O pavor tomou conta da mim e o pânico não largava o meu peito, a minha namorada andava estranha nos últimos dias e hoje de manhã estava demasiado pensativa.

Quando decido sair do centro de treinos, com o Francisco, recebo a visita inesperada dos meus pais. Segundo os meus cotas, eles queriam ver como eu estava, já que cada vez dava menos notícias, justificação? Agora eu tenho uma vida amorosa, não tenho tanto tempo para lidar com a família… Apesar da vontade não ser nenhuma, levei-os, como sempre, a dar um pequeno passeio e terminamos no meu apartamento. Eu não largava o telemóvel e a Inês mantinha o dela desligado e não dava notícias, nem estava na casa dela (visto que o Francisco já lá estava e nós tínhamos prometido que o primeiro a estar com ela, contactava o outro). A minha percebeu nitidamente que eu não estava bem, então não contrariou muito ao constatar que o passeio tinha sido mais curto que o normal e eu queria ir para casa. Por muito que eu pareça um filho horrível, a minha vontade de estar com os meus pais era nenhuma, eu só queria procurar a mulher da minha vida, eu precisava de saber dela rapidamente, o aperto que eu sentia no peito e a falta de contacto com ela eram sinal que algo se passava com ela.

            A minha mãe adentrou pela minha casa, mal eu abri a porta, deixando eu e o meu pai para trás à conversa. Ela segue disparada para sala na sua revisão do estado do apartamento do filho, cena típica de mãe, ver se está limpo e arrumado… O que me surpreende é quando eu ouço um grito dela a chamar-me:

            - PEDRO! PORQUE É QUE A TUA EMPREGADA ESTÁ NUM ESTADO HORRÍVEL A TRABALHAR?

            A verdade é que aquela pergunta era totalmente ridícula. Em primeiro lugar, o que havia naquele apartamento mais próximo de uma empregada, era uma senhora velhota que ia fazer uma limpeza na casa, logo não deveria estar a trabalhar “num estado horrível”, era uma avozinha que se arranjava minimamente. Em segundo lugar, desde que namoro com a Inês, ela “obrigou” a mim e ao Rapha a reduzirmos o horário da senhora e a fazermos mais nós próprios, ou seja, a mulher só lá ia agora um dia por semana, que tinha sido (salvo erro) ontem. Portanto, não percebi aquela pergunta…

            E, de novo, uma sensação estranha assombrou-me. Eu corri para a sala e encontrou uma mulher loira, com um corpo incrível, era a única mulher capaz de parar o meu mundo. Ela estava com uma das suas roupas de ginásio, toda transpirada e, de fones no último volume, limpava freneticamente os vidros da minha sala. Naquele momento, eu esqueci que os meus pais estavam ali, ela precisava de mim.

            Todos nós temos manias e havia algumas muito peculiares na minha namorada. A Inês acordava com um humor terrível, a não ser que eu a acordasse de uma maneira específica; a Inês só acordava e ficava bem realmente a seguir a uma boa dose de café (que também não podia ser preparado de uma forma qualquer); a Inês mordia o lábio quando ficava nervosa com o meu corpo; a Inês nunca disfarçava o desejo que sente por mim; a Inês odeia chorar em pública; a Inês adora limpar vidros, principalmente, quando está com uma crise de nervos e pânico, depois de gastar todas as energias com horas de ginásio e dança. A minha miúda tinha pedido a tarde de folga sem me dizer nada, queimou calorias até dizer chega no ginásio e agora está a limpar vidros na minha casa, ou seja, ela precisa MESMO de mim.

            Lado a lado com ela, coloquei a mão no ombro dela, tirei o fone do ouvido e sussurrei:

            - Eu estou aqui, amor.

            Se eu dissesse que estava preocupado com ela até aí, depois de ver os olhos dela tão vermelhos e o rosto lavado em lágrimas diria que essa mesma preocupação aumentou umas 10 vezes mais. Aqueles olhos diziam que ela estava no foço e o abraço sufocante dela em mim era mais uma prova disso mesmo. Eu só queria poder aliviar aquele sofrimento...

 
Indico para todas lerem um blog lindo com uma fic que tem tudo para ser espetacular (já o está a ser). Leiam, comentem e sigam o blog da Joana ( http://benfasorgulho.blogspot.pt/ )
 
 
Hallo! Mais um capítulo aqui, espero que gostem... Vou tentar acelerar um pouco, para ver se mais ideias surgem e mais coisas acontecem.
Agradeço às 3 meninas que comentaram no meu último capítulo e espero continuar a ter alguns comentários...
 
Beijinhos,
Rita B.