domingo, 15 de maio de 2016

CAPITULO 24 - "LOVE IS A FUNNY THING..."


“O tempo passa demasiado depressa e as coisas vão melhores que nunca…” Esta era a frase com a qual eu mais queria e desejava começar, todavia essa não é a realidade, essa não é a minha realidade… E eu não posso (nem vou) ser hipócrita com vocês, portanto contarei a verdade, não aquilo que eu gostava que fosse… A realidade não é sempre bonita, certo? Então porque hei-de transformar a minha vida numa história de princesas com um “Feliz para sempre”? Se o “para sempre” não existe, porque haveria de existir o “Feliz para sempre”?!

Desculpem, estou a ser demasiado confusa para todos vocês? Eu devia contar o qual é a minha “realidade atual” e o que aconteceu para aqui chegar, então é isso que farei! Eu vou tentar contar de forma resumida a história desde o “último episódio” até agora…

Se bem se recordam, a última vez que vos contei novidades, nós tínhamos ficado na parte em que vos descrevi uma atuação minha num programa de dança da TVI: “Dança com as Estrelas”, em que eu e o Pedro admitimos sem problemas nenhuns que estávamos juntos “para sempre” (irónico? Nada…). Já estão mais ou menos situados? Simplesmente, estavam todos in love felizes e contentes… E, assim se manteve uns bons e fantásticos dias, mas essa atuação na televisão abriu portas novas na minha vida que eu não esperava e fechou outras tantas. Após esse referido programa, várias revistas e artistas me contactaram para entrevistas e pequenas participações quer em desenho de coreografias, quer na prática dessas mesmas danças em videoclipes musicais, mas nada que despertasse o meu interesse e motivação para aceitar. Todavia, recebi via correio eletrónico uma proposta que fixou totalmente a minha atenção, com o seguinte texto:

“Excelentíssima Senhora Inês Correia,

Vimos por este meio convidar sua excelência a participar num projeto cujo objetivo é aperfeiçoar possíveis estrelas na dança, isto é, limar as arestas da técnica de dançarinos para estes se tornarem profissionais. Este projeto conta com avaliações e, as duas pessoas com piores avaliações serão eliminadas semanalmente, vencem as cinco pessoas finalistas. Os vencedores terão direito a um certificado profissional, uma possibilidade de pertencer a uma equipa profissional e um prémio de 15.000€ cada. Este projeto terá duração de 4 intensivos meses. A estadia para os vários concorrentes será no campus reservado com direito a alimentação.

Geralmente as inscrições neste projeto são feitas através de castings e várias seleções dos elementos, todavia vocês é uma das poucas exceções que nós contactamos diretamente com esta proposta. Esta é uma proposta única na vida e espero que tenha isso em consideração.

Aguardamos uma resposta positiva da sua parte a esta proposta, como é óbvio…

Com os melhores cumprimentos,

PUMPfidence

A proposta foi sem dúvida a mais aliciante que já tinha recebido e irrecusável. Os membros da PUMPfidence vieram atrás de mim, eu não tinha concorrido para o projeto como seria o “normal” e esperado, o que tornava a proposta ainda mais incrível e honrosa para mim. Deste modo, não concorrer neste projeto não era sequer uma hipótese para mim e foi aí que todos os meus problemas começaram, os mesmos problemas que condicionam a minha situação atual… Eu decidi falar da notícia no próprio dia que a recebi, quando tive a oportunidade, durante um jantar lá em casa entre mim, o Pedro, o meu primo e a minha melhor amiga, que eram das pessoas mais essenciais à minha vida, principalmente ali na capital.

- Pessoal, eu tenho uma excelente notícia para vos contar! – Exclamei sorrindo abertamente, captando a atenção das três pessoas que estavam à mesa. – Vocês não vão acreditar, quer dizer, nem eu ainda consegui acreditar bem que é verdade… Enfim, a notícia é que eu recebi uma proposta para participar na nova edição do projeto americano PUMPfidence!

Ao olhar para as pessoas a quem me dirigi consegui ver as alterações no seu rosto consoante assimilavam a grande novidade e as reações delas foram totalmente distintas umas das outras. A minha melhor amiga Diana levantou-se aos guinchinhos, a bater palminhas e aos pulinhos, parecendo uma autêntica criança/adolescente, agarrando-se logo a mim a transbordar de felicidade por todos, ela sabia que este era o sonho de qualquer dançarino com a mínima vontade de ascender na dança. O meu primo Francisco sorria abertamente com um brilho enorme de orgulho nos olhos, ele sabia o que aquilo significava para mim, mas alguma preocupação também que ele não conseguia conter, nem queria fazê-lo porque ele estava preocupado comigo, logo não podia deixar passar o assunto. Enquanto o meu namorado fechou completamente o semblante, emburrou, e pela postura percebi que estava irritado, apesar de tentar controlar-se ao máximo, eu via raiva a sair por todo o lado, só faltava espumar como um cachorro. Aquela era a atitude que eu nunca esperaria do Pedro, ele era suposto estar do meu incondicionalmente, não?

- Parabéns, amiga! – Gritava a Di, levando-me a gargalhar baixinho.

- Esse não é aquele projeto de sonho de dança? Eu não sabia que tinhas concorrido para isso… Afinal pareço ser sempre o último a saber de tudo! - Murmurou de forma seca e algum desprezo na voz o homem dos meus sonhos, pelo menos era.

- Eu não concorri, eles mandaram-me e-mail a pedir que eu participasse… Como é lógico, se eu tivesse entrado nalgum casting tu saberias… Aliás, vocês são os primeiros a saber que eu recebi este e-mail e não estou a perceber o que está a acontecer contigo, Pedro. - Justifiquei, tentando esconder a mágoa que a atitude dele me estava a causar. Ele conseguia ser a pessoa que mais alegrias me dava mas que também me partia mais o coração com as atitudes que ele demonstravam… Ele sempre foi compreensivo comigo e eu com ele, porquê isto agora?

- Priminha, tu já falaste com o Dr. Gonçalo se estás em condições para esse esforço todo? Não cometas nenhuma asneira, por amor de Deus, a tua saúde é mais importante que esse projeto! – Questionou um Francisco preocupado, ao que logo tranquilizei com os resultados dos meus exames estarem todos bem e todas as declarações de rotina feitas pelo meu médico. – Então, acho que só me resta dar-te os Parabéns e desejar-te muita sorte… Estamos juntos, minha pequena! És o nosso maior orgulho! Certo, Pedro?

- SÓ PODES ESTAR GOZAR COMIGO, FRANCISCO! ISTO É A CENA MAIS RIDÍCULA QUE JÁ PRESENCIEI EM TODA A MINHA VIDA! SE VOCÊS ACHAM QUE EU VOU DEIXAR A MINHA NAMORADA IR PARA ESSA PALHAÇADA E ME DEIXAR AQUI SOZINHO, ESTÃO TODOS MUITO BEM ENGANADOS… A MINHA NAMORADA NÃO VAI A LADO NENHUM! NEM EM SONHOS, ERA O QUE MAIS ME FALTAVA! EU NÃO VOU TER UMA NAMORADA COM UMA PROFISSÃO DE VERGONHA, QUE ANDA A DANÇAR PARA OS HOMENS TODOS! VOCÊS ACHAM QUE EU NÃO CONHEÇO AS DANÇAS QUE SURGEM NESSES PROJETOS? AH, CLARO, É O SONHO DE QUALQUER DANÇARINO… POUPEM-ME! CRESÇAM! VOCÊS PARECEM CRIANÇAS IDIOTAS QUE SONHAM EM SER POP STARS… – Gritou, levantando-se e espumando de raiva. A verdade é que na nossa relação ele sempre foi o pilar que nos suporta, a âncora que nos fixava e não nos deixava fugir do controle, se ele estava descontrolado, eu também ficava… se ele estava feliz, eu também estava… se ele estava triste, eu também estava…

- TU ESTÁS A FALAR COMIGO? ISTO É UMA BRINCADEIRA, CERTO? TU ACHAS ISTO UMA POUCA-VERGONHA? ESTA É A MINHA VIDA! QUANDO TU ME CONHECESTE EU JÁ ERA ASSIM OU ACHASTE SEMPRE QUE EU IA MUDAR? POIS BEM, EU NÃO VOU MUDAR POR CAUSA DE HOMEM NENHUM… DEVIAS ENTENDER ISSO DESDE O INÍCIO. SÓ NÃO PERCEBO PORQUE É QUE NÃO ME APOIAS NAS MINHAS DECISÕES? PORQUE NÃO FAZES O TEU PAPEL DE NAMORADO E APOIAR-ME? ERA SUPOSTO FICARES FELIZ POR MIM E ESTARES DO MEU LADO… PORQUE É QUE SÓ ME JULGAS?

- Achas que vamos namorar à distância? Achas mesmo que eu quero ter uma relação com uma mulher que prefere ir para os Estados Unidos abanar o corpo durante meses em vez de ficar comigo do meu lado a apoiar-me? Tu estás a pensar no nosso futuro? Tu estás a pensar em filhos nossos que depois terão uma mãe que quer mostrar o corpo para todos, uma mulher que quer provocar homens? Achas que isso é vida para ti? Então, força, vai! Mas não contes nunca mais comigo… Eu realmente devo ter-me enganado tanto e conhecido uma Inês que nem sequer existe, eu devo ter imaginado a Inês que queria. Foste a minha maior desilusão!

Após este discurso ridiculamente estupido, ele saiu pela porta fora do apartamento e eu nunca mais o vi à frente, nem mais gordo, nem mais magro. A verdade é que toda aquela situação só me motivou a seguir com a minha vida em frente e ser independente, ir atrás dos meus sonhos, contando com o apoio daqueles que são as verdadeiras pessoas que estão na minha vida desde sempre e para sempre. Portanto, aceitei a proposta e preparei-me para uma vida diferente, uma nova aventura, uma experiência que eu estava a precisar agora mais do que nunca… A minha família inteira, a equipa do Benfica e todos os meus amigos organizaram-me uma festa de arromba como despedida do país que me viu nascer e me fez quem eu sou, festa essa em que ele se recusou a aparecer, apesar de saber de tudo… e no aeroporto? Nem vê-lo! Eu confesso que sonhei com aquela típica cena de ele surgir e tentar-me impedir de apanhar o avião. Aquela cena de me abraçar, beijar e sussurrar que ficaríamos juntos mesmo comigo do outro lado do oceano, mas mais uma vez me iludi… Essa cena é típica de filmes por algum motivo e infelizmente a realidade é muito mais cruel e desagradável!

 

Eu estava na loucura máxima! Os Estados Unidos tinham-se transformado na minha segunda casa, onde eu podia ser eu mesma e me expressar à vontade, sem receios do que pensariam de mim. A competição já tinha começado há uns 3 meses e meio e eu ainda fazia parte do projeto, contactava constantemente com a minha família e com os amigos mais próximos, que acompanhavam o programa ao máximo de casa deles, mas recusava de qualquer forma possível e imaginária a receber e saber notícias daquele homem que eu mais tinha amado no mundo. Eu morria de saudades de todos e sentia-me completamente esgotada, mas feliz por participar naquele projeto excecional, feliz por aceitar aquela experiência sem desistir por causa de homens e relações. Eu era, pelo que diziam, uma das potenciais finalistas vencedoras e via a possibilidade de me tornar dançarina profissional cada vez mais perto. O tempo passava a correr, o rigor e exigência duplicavam ou triplicavam todos os dias e com apenas duas semanas para a grande final, os treinos só aumentavam e o tempo de descanso diminuía… O problema chegou quando o meu corpo começou a não aguentar toda aquela pressão, não respondendo constantemente às exigências que lhe eram impostas e comecei a desmaiar frequentemente, ao ponto de ter de consultar um médico com urgência, sem haver um possível escape a isso. Não posso negar que o meu receio com aquilo que poderia ser diagnosticado era absurdamente enorme, tendo em conta ao meu histórico médico, então tremia por todos os lados no hospital, enquanto fazia inúmeras análises e exames.

Estava sentada na cadeira e sentia-me o mais desconfortável possível. Não por culpa da cadeira em si, que até seria confortável se eu não estivesse naquela situação toda de não saber o que tenho ou deixo de ter. Para complicar mais o meu sistema nervoso, o médico continuava com aquele olhar abismado para as análises, já fazia uns 5 minutos que ele olhava para tudo sobre a secretária dele sem falar nada e eu ali à espera... Eu não sou a pessoa mais paciente no mundo, mas mesmo que fosse, naquele momento deixava de ser. Eu sentia o meu equilíbrio emocional prestes a ruir, eu só queria saber o que se passava para poder correr dali e chorar em paz… E, se fosse demasiado grave, poder correr para os braços da minha mãe.

- Por favor, Doutor, imploro que me diga alguma coisa! Eu não aguento estar no desconhecido por muito mais tempo… Isto está a sufocar-me! – Supliquei baixinho.

- Oh, desculpe, só acho impressionante que com o seu histórico médico todo isto ter acontecido, acho que você nem sequer pôs essa hipótese, se não seria a coisa mais lógica do mundo… - Começou o médico a divagar, continuando com o olhar nos exames.

- Doutor, o que é que eu tenho? Eu tive alguma recaída? Eu vou ter de deixar o projeto porque piorei outra vez? Eu sei que tinha os exames todos tão controlados, será possível que em tão pouco tempo descambou tudo outra vez? Será que eu não tenho sorte nenhuma? – Murmurei desesperada e com os olhos recheados de lágrimas que eu continha ao máximo.

- Inês, uma questão: há quanto tempo não é menstruada? – Questionou-me calmamente.

- A última vez foi antes de vir para cá, se bem me recordo, mas o que isso tem haver? Eu tive aquele problema todo em que fui submetida a cirurgia e demora algum tempo a equilibrar tudo outra vez… - Eu falava sem parar e gesticulava que nem uma maestra, eu não percebia a ligação para aquilo tudo.

- Respire fundo, por favor… Você precisa de se acalmar, a Inês está grávida! Agora tem alguém que depende inteiramente de si!

Se uma bomba tivesse caído sobre a minha cabeça, os efeitos causados seriam infinitamente menores que o que aquela informação dada pelo médico me causou… Naquele momento, tudo parecia fazer sentido para mim: eu sentia-me mais inchada (não por estar mais gorda ou assim, mas por causa de um bebé que tinha dentro de mim), frágil emocionalmente (não eram só as saudades de casa, nem o stress da competição, mas era os efeitos hormonais da gravidez), desmaiava imenso (não por o projeto ser demasiado para mim, mas porque eu não podia exigir tanto de mim enquanto grávida) e aquele atraso da menstruação (não era sinal que eu ainda não estava bem, mas, pelo contrário, eu estava bem o suficiente para poder ter um feijãozinho dentro de mim).

A questão é que eu teria de abandonar o projeto, sem dúvida alguma, aquela criança recém-descoberta era a minha prioridade número 1 em tudo, era a minha vida… E o pior é que eu não sei se o pai da criança vai aceitá-la, nem sei se ele merece sequer saber da novidade, afinal ele não disse que nunca mais me queria ver à frente? Não foi ele que me virou as costas quando precisei do apoio dele? Será que deva contar?

- Por favor, acalme-se, Inês! – Falou o médico, ao presenciar o meu início de um ataque de pânico.

- Está tudo bem com o bebé? – Perguntei pausadamente e em murmúrios.

- Só com uma ecografia é que saberá, Inês. Você tem de começar urgentemente o pré-natal e a ser acompanhada por um médico, eu posso indicar algum dos meus colegas, tenho a certeza de que não se irá arrepender…

- Não, obrigada! Eu vou ser acompanhada no meu país… Eu preciso de ir para casa, para Portugal! - Interrompi o médico de imediato, eu só queria sair dali e despachar tudo o mais rápido possível para procurar consolo e apoio dos meus pais. – Posso fazer esta viagem de avião, certo?

- Inês, se faz mesmo questão, faça essa viagem, mas depois cuide de si e do bebé… O seu quadro clínico necessita de uma vigia permanente e essa gravidez pode ser um perigo para si!

 

As palavras do médico de que “essa gravidez pode ser um perigo para si” não saiam da minha cabeça, muito menos nas longas horas de viagem que tive de passar dentro de um avião, ao lado do avozinho que ressonava e da senhora que reclamava até com a concentração de determinados sais nas garrafas de água.

Só avisei uma pessoa do meu regresso a Portugal, mas não expliquei o motivo. Eu tinha tomado a decisão que a próxima pessoa a saber da minha gravidez teria de ser o pai da criança, mesmo que ele depois não a quisesse assumir… Portanto, mal aterrei, pedi ao meu primo para me levar até ao Pedro, pois tratava-se de um assunto urgente e que não poderia esperar.

- Priminha, que saudades! – Gritou o meu primo, em pleno aeroporto, ao abraçar-me com força, levantando os meus pés do chão. – Que surpresa é esta e o que é que estás cá a fazer?

- Resolver umas questões… Portanto, meu amor, preciso que me leves até ao Rebocho agora! – Falei séria, de forma a ele entender que era mesmo importante.

- Nocas, ele não aceitou nada bem a tua partida, eu não sei se ele te quer ver à frente tão depressa… Além disso, ele nem sequer está em Lisboa, é o nosso dia de folga.

- Perfeito! Pega no carro e leva-me até ao Alentejo, estou desejosa de rever os meus “ex-sogrinhos”.

Se o meu primo insistiu ainda em tentar-me fazer desistir da ideia de ir atrás do Pedro? Como é óbvio! Mas não havia volta a dar, eu não poderia deixar passar mais tempo. Eu não podia ter a criança, ignorando quem é o pai dela, eu não tinha esse direito… por mais que no momento fosse o que eu mais desejava. Então, só nos restou seguir viagem e, mais ou menos, duas horas depois estávamos à porta da casa da família Rebocho.

- Tens a certeza que queres fazer isto, Inês? – Questionou o meu primo, antes de eu tocar à campainha… Ainda era possível fugir e, por muito que eu preferisse virar costas, eu tinha de confrontá-lo!

- Não, mas eu tenho de fazê-lo, Kiko! Tu depois perceberás porquê, e eu sei que apoiarias esta minha decisão. Vai ser muito difícil e sei que sou uma cobarde, portanto preciso que fiques ao meu lado, eu não sei se vou aguentar depois… - Comentei com lágrimas no rosto e pressionando a campainha. Poucos segundos depois, eu vejo uma senhora sorridente a abrir a porta, a Senhora Rebocho, aquela pessoa que não tinha gostado muito de mim quando me viu pela primeira vez, mas que se tornou um grande apoio, quase como uma segunda mãe para mim, assim que nos conhecemos melhor.

- Inês, meu amor, o que fazes aqui? Tu devias estar a ganhar o programa americano… - Comentou, dando-me um abraço apertado, o que me levou a chorar como um bebé. – O que é que se passa, minha querida? Entrem, podemos falar à vontade…

- O Pedro? Eu preciso de falar com ele urgentemente… - Sussurrei entre lágrimas.

- Os três homens desta casa saíram para o habitual “programa de homens”, tu sabes como é, mas eles não devem demorar… Queres falar comigo e contar-me o que se passa?

- Eu vou estragar a vida ao seu filho, eu juro que não foi com intenção! Além disso, eu não sei se viverei muito mais tempo para poder contar a história… Eu posso morrer, mas não vou voltar atrás com a minha decisão!

- Tu podes morrer e não fazes nada para impedi-lo? Estás a precisar de um novo transplante mas não queres pedir ajuda ao meu filho por orgulho, é isso? Por amor de Deus, minha filha, a tua vida é mais importante que qualquer outra coisa! – Exclamou a senhora chocada comigo.

- Nocas, é sério? Tu corres risco de vida? – Perguntou o meu primo assustado, ao que eu apenas consegui assentir com a cabeça.

- TU FICASTE LOUCA DE VEZ?! TU NÃO VAIS MORRER, EU NÃO DEIXO! – Berrou o Pedro, olhando-me com raiva, certamente ouvindo a parte final da conversa.

- Não estou louca! Eu posso morrer, porque sou uma inconsciente e fraca o suficiente para não sobreviver e ter a criança que estou à espera. Eu estou grávida, Pedro, e não vou abortar! Nós vamos ser pais…
 
 
 
Hello!!! E aqui estou eu numa nova tentativa de continuar com a fic, o que não sei se será o melhor ou até mesmo se dá resultado. Mas tentar não custa certo?
Em celebração ao Benfica B não ter descido de divisão e esperando logo haver festa do #35...
Muitos  Beijinhos,
Rita Bonito

domingo, 31 de janeiro de 2016

MORE THAN THIS (part 1)


Hello Hello! O meu nome é Gabriela (mas os meus amigos chamam-me Gabs, Gabby, Bi, Bibi…), sou muito louca e sou fotógrafa e modelo fotográfica. Eu sei o quão confusão pode parecer eu tanto tirar fotos, como ser o alvo dessas mesmas fotos, mas a justificação é bem simples: eu fiz curso de fotografia e, já era fotógrafa profissional, quando me desafiaram para pousar também para algumas marcas, o que para mim inicialmente não passou de uma brincadeira e um pequeno desafio. Para ser sincera, eu prefiro muito mais a minha primeira e verdadeira profissão, que é aquela que eu pratico mais e me dedico a 1000%. Por outro lado, como tenho muitas tatuagens espalhadas pelo corpo (pequena curiosidade: eu sou tão viciada e apaixonada por tatuagens que eu própria já aprendi a trabalhar com as agulhas e até já tatuei amigos, familiares e a minha pessoa), algumas marcas têm tendência a recusarem-me enquanto modelo, não querem um “rabisco humano” (um “mau exemplo”, preconceituosos puros, porque as tatuagens não definem desse modo uma pessoa) a representá-los, enquanto, como fotógrafa, esse problema já não se coloca. Não trocaria a fotografia por nenhuma outra profissão, adoro apanhar as pessoas desprevenidas, apanhar o verdadeiro lado delas e o sorriso sincero… A fotografia, para mim, é uma tentativa de parar o tempo, de manter mais presente determinadas recordações, determinadas pessoas, determinados momentos importantes… Portanto, se eu tiver uma máquina na mão, eu entro numa outra dimensão, numa realidade paralela, desligo do que realmente o que está a acontecer e foco a minha atenção apenas nas várias perspetivas possíveis à procura da melhor. Além disso, como sou demasiado perfecionista, eu não consigo parar até achar aquela foto perfeita, aquele ângulo fantástico e talvez seja isso que faça com que eu até tenha bastante trabalho.

Focando no agora: acabo de sair do Brasil, onde fiz imensas fotos para várias marcas fantásticas… Adoro tanto o Brasil, sinto-me sempre bem naquele ambiente de alegria e animação constante, tornou-se um pequeno refúgio, como que uma casa para mim, onde já fiz imensas amizades preciosas para mim. Adoro todo aquele ambiente de farra, dança e loucura! Mas, não dispersando muito (eu tenho o pequeno problema de dispersar muito nos assuntos, sorry!) e tentando retomar ao que interessa, estou, neste momento, no avião de regresso ao meu lindo e amado país, que já não visitava há uns longos meses e morro de saudades… Eu realmente só quero ver o meu afilhadinho lindo, que cada vez está maior e mais esperto, o meu pequeno Gugu. Decidi tirar uma foto rápida e partilhar no instagram (meu víciozinho bom e, como tal, tenho que ir sempre atualizando):

A contar as horas para ver o meu baby <3

         Como eu sabia que a viagem iria ser muito longa e, que se eu não me entretece, seria muito chata, passei o tempo a ler um bom livro de romance (um dos 5 livros que fazem parte de uma saga que amo de coração e que um deles é sempre o escolhido da viagem, o meu top de livros que não falha nunca) e a ouvir música, rezando para chegar o mais rápido possível ao meu destino e sem demasiada turbulência. Mal o avião aterrou no aeroporto, não quis perder mais tempo, tentei correr ao máximo para agarrar as minhas malas e procurar a minha desejada boleia… Eu parecia uma barata tonta a olhar para todos os lados no local que tinha combinado, até ouvir uma pequena e doce voz gritar:

         - Dindinha!

         Automaticamente rodei a minha cabeça de forma a ver o moreninho mais lindo do mundo a correr na minha direção e eu só tive tempo de abrir os braços e me abaixar para o agarrar com a maior força possível (maior força sem machucar, como é lógico), para ele não fugir de mim. Rodei com ele no ar, dei-lhe tantos beijinhos amorosos no rosto, ao que ele só gargalhava alto e me abraçava forte na zona do pescoço. Meu Deus, como ele tinha crescido, desde a última vez! Ele, como criança saudável que é, crescia a olhos vistos e eu não o quero largar nunca mais…

         - Amo-te tanto, meu bebé! Que saudades que eu tinha, amor da minha vida… - Murmurei entre inúmeros beijos e mordidelas naquelas bochechas gostosas. Escusado será dizer que eu já estava com a cara completamente lavada em lágrimas… O meu amor por aquele ser pequenino é tão grande, que o passar tanto tempo longe dele mata-me profundamente por dentro. Eu perdia imenso no crescimento do meu menino com as minhas temporadas todas no estrangeiro e isso era o pior de tudo, aquilo que mais me magoava quando pensava no assunto… Por muito que eu amasse o meu trabalho e viajar, o estar longe do meu afilhado, era uma questão que fazia sempre o meu coração sangrar… Apesar de ele sempre ter um à-vontade incrível comigo como se convivêssemos diariamente, as nossas longas videochamadas Skype, trocas de snaps, de fotos e vídeos nunca eram o suficiente, nunca substituiriam o contacto físico, o estar com ele juntinho a mim como agora.

         - Dindinha, já xega! – Reclamou rindo.

         - Sempre o mesmo resmungão, eu não tenho culpa de tu seres tão fofinho, meu gostoso! – Exclamei, fazendo umas cócegas na barriguinha de bebé. Era sempre assim, ele sempre reclamava dos meus ataques de amor por ele, desde bebé ele nunca foi grande apreciador destes ataques de doçura… Todavia, eu era a única pessoa que ele não fugia nesses momentos, reclamava mas mantinha-se agarradinho a mim.

         - Olá, Gabs! Tudo bem? Não me digas que deixaste a educação que os teus pais te deram lá no Brasil? – Ouvi um homem reclamar atrás de mim com muita ironia, o que me levou a parar o que estava a fazer.

         - Tu adoras implicar comigo, cruzes credo! Será possível que não podes amar-me um bocadinho menos, por favor? É que vamos ser sinceros, tanto amor pela minha pessoa também sufoca… Eu sei que és meu fã número um, não precisas de estar sempre em cima de mim, não é?- Bufei para fazer aquele drama clássico, típico da minha pessoa. - Mas até de ti eu já tinha saudades, seu implicante… - Comentei ao Sílvio (pai do Gugu), abraçando-o de lado com o braço que tinha livre.

         - E eu tuas, modelete! Eu sou muito fã teu, tu sabes que sim. Agora está na hora de nos pormos a caminho, que nós estávamos num churrasco com os meus amigos e só saímos por tua causa… - E, dito isto, pegou nas minhas malas e seguimos caminho para o carro dele. Ao ouvir aquela confissão, eu só tive tempo de colocar-lhe a mão sobre o braço e sussurrar bem baixinho, o suficiente para ele ouvir:

         - Desculpa, vocês não me tinham dito nada disso, eu não vos queria incomodar de modo algum… Eu podia muito bem ter apanhado um táxi, ou autocarro, ou até pedia a algum amigo para me vir buscar. Eu odeio estar a incomodar-vos! – Eu odiava quando atrapalhava a vida dos outros com as minhas rotinas e viagens, odiava incomodar os outros, principalmente aqueles que mais amo...

         - Achas que eu conseguia permitir que o meu filho e tu estivessem mais tempo afastados? Eu sei que vocês geram muito mal toda esta questão da distância, ele pode ser uma criança, mas também sofre tanto como tu com isso… Além disso, não me custa nada vir-te buscar e tu já conheces grande parte dos meus amigos, vais sentir-te logo à vontade! Gabriela, escuta-me bem que eu não quero repetir isto sempre: tu és parte da família da Marta, és parte da vida do Gustavo, logo és da minha família também, és como uma irmãzinha mais nova para mim e tu sabes tão bem disso… Portanto, nunca digas que nos incomodas! Até me sinto mal ao saber que tu pensas assim, nós amamos tanto ter-te por perto, boneca… - Aquele discurso todo foi o suficiente para eu recomeçar a chorar (já que tinha chorado horrores mal vi o Gugu), eu sou uma autêntica manteiga derretida… Eu amava incondicionalmente a minha família e, quando foi o casamento da Marta com o Sílvio, tive receio que não me considerassem parte da família conjunta, que eu fosse somente um membro da família da Marta. Tudo o que estava relacionado a família era assunto delicado e sério para mim e todos sabiam disso, era impossível não se aperceberem... Recebi um abraço muito forte dele e um beijo no topo da cabeça, o que era o suficiente para me acalmar por agora, me fazer esquecer qualquer problema…

         Eu não sabia onde seria o dito churrasco e nem reparei um bocadinho que fosse do caminho que percorremos. O Sílvio é que era o motorista e ele sabia o caminho, por isso, decidi gastar o tempo todo de volta do meu bebé: ouvi-lo contar todas as novidades da escolinha, as historinhas dos seus amiguinhos e de todos os factos do dia-a-dia dele. Mas, com o carro estacionado, eu olhei para aquele que, pelos vistos, era o nosso destino e reconheci automaticamente como sendo a casa do Luisão, sentindo um alívio e uma paz interior preencherem-me. Eu estaria num local familiar, onde eu poderia ser eu própria, sem preocupações inúteis, sem regras de etiqueta especiais, apenas ser eu... Entrando naquela casa vejo bastante gente conhecida, quer dos jogos do Benfica que eu acompanhava sempre, quer de convívios anteriores e sorri. Aqueles que eu não conhecia de todo, deduzi serem familiares de jogadores recentes na equipa… O Gustavo mal entrou, correu como um doido na direção de um cantinho cheio de brinquedos, insufláveis, pinturas e crianças entretidas, o que me deixou orgulhosa vê-lo tão integrado e saudável, vê-lo ser uma criança normal. O meu sorriso só aumentou ao ouvir a voz da minha prima a gritar:

         - Gustavo, filho, tem cuidado para não te magoares! – Após desempenhar o papel dela de mãe (para que consta ela executa na perfeição o seu papel), vem ter comigo e abraça-me tão apertado que quase me levanta do chão – Que saudades, minha pequena!

         - Que mania de me chamarem pequena, a sério… Até parece que eu sou muito mais baixa que tu, sua chata! Acreditas que eu até estava a morrer de saudades de me chamares pequena? Até disso, como é que é possível? - Resmunguei na brincadeira, só mesmo para dar uma de refilona (eu sou assim, não gostam temos pena!).

         Acabei por cumprimentar só aqueles que eu conhecia melhor e o resto saudei com um alegre aceno bem rápido e meio distante… O cheiro a carne a grelhar, o facto de não comer há muito tempo e de me sentir mais leve, levaram os meus pés a rumarem rapidamente para perto do churrasco e conviver com as pessoas que por ali estavam. Eu comi muito, levando a gozarem comigo. É sempre assim, o meu maior defeito talvez passe pela minha boca, provavelmente é o facto de eu sentir tanto prazer a comer e, se não fosse as longas horas de ginásio e exercício, eu já rebolaria (seria uma bola de Berlim humana, muito doce e gorda).

Eu tenho a plena consciência que sou uma mulher feita e crescida e que devia dar um ótimo exemplo para as crianças, mas perto delas eu não resisto e porto-me igual ou pior que elas, por isso, é que elas costumam adorar-me. Andei a brincar às bonecas, às escondidas, ao apanha, ao jogo da corda, à bola, aos carrinhos e de tudo um pouco… até os homens decidirem jogar futebol (o que é meio ridículo, visto a profissão deles já ser isso, mas pronto, são umas autênticas crianças em tamanho grande e já não havia solução para esse facto). Eu amo futebol (eu amo desporto no geral, mas particularmente futebol, basquetebol e voleibol), então decidi sentar-me num cantinho com algumas crianças e mulheres a observar e a gritar, quer dizer, a gozar com aqueles jogadores que me dava bem, do tipo:

- Oh Sílvio, até o pequeno Gugu corria mais que tu… estás mais gordo ou mais preguiçoso? Luisão, a tua cabeçorra está maior desde a última vez que te vi? Só não mates ninguém à cabeçada, tudo na paz, certo capitão? Gaitán, faz um truque de magia para mim, por favor! Tu sabes que adoro a tua magia…

Todos se riam do que eu dizia, principalmente as mulheres que assistiam e os jogadores não envolvidos nas minhas bocas, mas a minha implicância com o Sílvio era a maior de todas (como é óbvio, é o jogador que eu tenho uma relação mais próxima, meu irmão mais velho emprestado) e ele respondia às minhas picardias… Até que ele falhou um remate e farto de ouvir a minha voz sempre a buzinar para ele, virou-se para mim:

- Oh, sua grande preguiçosa, se é assim tão fácil, porque é que não jogas um pouco connosco? Tens medo ou não aguentas?

- Tudo bem, fofinho, eu alinho… - Comentei, levantando-me. – Eu fico em que equipa?

- En el equipo sin camiseta? – Questionou o Lisandro Lopez com sorriso maroto e levantando as sobrancelhas, o que me levou a gargalhar muito alto e piscar o olho discretamente. Há pessoas que não têm solução, mas eu acho essencial um pouco de sacanagem na minha vida.

- Nem pensar! Pipipi parou! Não te ponhas com ideias dessas, Licha, por favor, ela era bem capaz de alinhar… - Reclamou um Sílvio mal-humorado, o que era totalmente verdade... Eu não era propriamente uma menina envergonhada e, como o meu trabalho passava um pouco por expor o meu corpo, eu não tinha complexos alguns em estar com menos roupa à frente de outros (atenção, menos roupa, eu nunca pousei nua, nem quero!). Não é que, neste caso específico, houvesse grande problema, visto que eu tinha vestido um biquíni por baixo da minha camisola, porque podia-me apetecer ir à piscina, mas não ia discutir desnecessariamente com o Sílvio (ele para mim era como o irmão mais velho que nunca tive, até ciúmes desse tipo ele tinha, o que era fofo quando devidamente controlado).

O jogo continuou, desta vez comigo a jogar, e eu ainda mal tinha tocado na bola. Eu não gostava de ficar ali apenas a ocupar espaço, para isso tinha ficado sentadinha. Jogar com rapazes nisso era terrível: eles ou te tratavam como uma flor delicada e muito frágil ou mal te deixavam jogar e, no final, o resultado era praticamente o mesmo, raramente tocas na bola! A minha tática para estes jogos era sempre a mesma: tentar tirar a bola dos adversários, para poder jogar um pouco e isso irritava alguns deles. Eu não passava de uma simples rapariga a roubar a bola a um jogador profissional (e todos sabemos o quão sensíveis os rapazes são nesse tipo de situações). Num desses roubos de bola, consegui ficar com a baliza há minha frente praticamente vazia, só com o guarda-redes e um jogador, que eu só conhecia de ver na televisão. Nesse momento, senti aquela adrenalina fantástica a correr pelas minhas veias, rematei e fiz golo, bem na cara desse dito jogador. Ao olhar bem no rosto dele, vi que ele não gostou nada do que eu fiz, deixei-o irritado e eu fiquei ainda mais radiante… Eu estava a jogar muito e não parava quieta, eu treinava muito regularmente para manter o meu corpo em forma e havia duas qualidades que desenvolvi especialmente: a agilidade e a velocidade. Num lance em que a bola estava a passar perto de mim, intercetei-a e segui caminho para a baliza, já tinha fintado uns 2 jogadores adversários, quando sinto uma rasteira acompanhada de uma dor aguda no meu pé direito e uma consequente queda da minha parte. Todos pararam de jogar e eu fiquei agarrada ao meu pobre tornozelo…

Uma grande agitação gerou-se há minha volta e eu tentava não gemer alto com dores (não havia com o que preocupar, certo? Foi só uma lesãozinha e eu não daria parte fraca em circunstância alguma). Senti uns braços agarrarem-me ao colo e transportarem-me até um sofá. Essa mesma pessoa colocou um saco de gelo com muito cuidado no local da pancada e ficou a tratar do meu pé. Ainda não tinha reparado quem era a pessoa e quando fui a ver quem era, para agradecer, surpreendi-me ao ver que era ele, o dito jogador que ficou irritadinho com o meu golo e deduzi ter sido o autor da minha lesão.

- Obrigada, mas eu sei tratar de mim! – Afirmei com voz fria, não gostei nada daquela situação e não ia disfarçá-lo, não havia motivo para o fazer.

- Gabs, deixe o Pedro ajudar você… - Comentou o Luisão, o que só me irritou ainda mais... Quer dizer, o menino reage como adolescente e vinga-se do meu golo magoando-me propositadamente e eu ainda tenho de agradecer? Por favor, poupem-me e não sejam ridículos! Eu só quero distância e paz, para poder recuperar do meu pé…

         A minha resposta foi só um olhar irritado e de desprezo, ao que a mensagem foi recebida na perfeição, pois o capitão do Benfica começou a afastar-se levando todos os outros com ele, exceto o jogadorzeco. Quando ia para pegar no gelo da mão dele para tratar sozinha do meu pé e reclamar algo, percebi que ele já tinha atado o gelo direitinho, de forma a não me queimar o pé e eu não ter de ficar a segurá-lo feito croma. Deste modo, eu poderia estar a descansar e não ter que estar preocupada em fazer algo com o meu pé. Ao ver todo aquele cuidado com a minha pessoa, acalmei os meus ânimos o máximo que consegui e decidi olhar finalmente no rosto dele, surpreendendo-me ao vê-lo focado em mim.

         - Desculpa, eu não te queria magoar… Deixei-me levar pelas sensações, esqueci-me das consequências que podia trazer e tu levaste por tabela. Eu juro que não sei o que me deu… Desculpa! Isto foi um terrível começo, eu sou o Pedro Rebocho… - Falou calmamente e com voz rouca, olhando sempre nos meus olhos. Aquilo derreteu-me toda, ele estava a ser sincero e aquela voz… que voz quente, uma voz perfeita na cama (já não bastava o corpinho jeitos e, o fantástico sorriso malandro no rosto, ainda tinha aquela voz? Meu Deus, e porque é que ele tinha de estar à minha frente sem camisola? Está muito calor hoje ou sou só eu que acho?).

         - Não foi nada, estas coisas acontecem quando se joga com profissionais, vocês não estão habituados a brincar e jogar com mais calma… Não te preocupes, com o gelo tudo passa, felizmente! - Murmurei sorrindo, mostrando que estava tudo tranquilo e bem comigo.

         - Desculpa a minha atitude, por favor – Suplicou baixinho (ele que não continue assim, porque eu não aguento, sinto até uma gota de suor a escorrer pela minha nuca).

         - Estás desculpado, sim, descansa! Ah, e eu sou a Gabriela, muito gosto em conhecer-te! Mas podes me chamar apenas Gabs ou Gabi ou o que preferires… – Afirmei sorrindo e piscando o olho.

         Um silêncio formou-se entre nós, mas os nossos olhares não se separaram um único segundo. Bem no fundo daqueles olhos castanhos, eu vi uma chama acesa e percebi que ele se sentia tão atraído e enfeitiçado por mim, como eu por ele. Sentia a mão dele no meu pé, a massajar-mo leve e firmemente e isso fez-me gemer baixinho de dor, devido à pancada, e de prazer, pelo contacto da pele dele na minha e da suavidade com que ele me tocava (que homem é este? Eu sempre me controlei tão bem à frente dos rapazes, porque é que ele me desorienta tão fácil e completamente? Santa Desgraça, o que estás a fazer com a minha vida e a minha cabeça? Não podia ser um daqueles gordos, com mau hálito e que não sabem o que fazer com uma mulher?).

         - Por favor, não gemas assim, linda, vais-me deixar louco… Eu preciso de por o teu pé bom! – Sussurrou com a voz tão baixa e rouca, que mal o ouvi, e isso deixou-me ainda mais animada (sinto-me ridícula, uma adolescente com as hormonas aos saltos que suspira por todos os lados e com tudo).

         - Eu não tenho culpa se tu me fazes gemer assim… - Gesticulei com os lábios, sem soltar som, quando ele olhou para mim e, como resposta, ele apertou ligeiramente o peito do meu pé e respirou bem fundo.

         Eu sentia uma forte tensão sexual entre nós, uma grande atração, que só foi ligeiramente afetada com a chegada do meu bebé, que estava preocupado com a madrinha dele e me veio mimar muito (odeio dizer isto, mas o Gugu bem podia ter escolhido outra altura para aparecer, não? Desculpa, bebé, eu adoro-te, mas a Dindinha estava a pensar em coisas que tu só daqui a uns bons anos podes imaginar). Acabei por passar um bom tempo a tirar fotos e a brincar com o meu afilhado, tentando matar mais um pouco das imensas saudades que tinha daquela coisa fofinha e gostosa, mas o Pedro nunca saiu de perto de nós, sempre a observar-nos e a rir das nossas cenas. Entre brincadeiras, o Gugu adormeceu no meu colo e eu decidi publicar uma das fotos, que eu tinha tirado nossa, no meu adorado vício:

Love of my life <3

         A Marta ao vê-lo a dormir profundamente, decidiu levá-lo para um quarto da casa, para ver se ele descansava melhor e dormia calmamente a sestinha dele sem interrupções, era algo que ele estava habituado na creche e em casa. E, novamente, eu e o Pedro ficamos sozinhos…

         - Como é que estás? – Questionou baixinho (excitada como se já não tivesse sexo à anos, e tu? Gabriela, focus, não podes dizer tudo o que passa na tua cabeça tarada).

         - Estou como nova! – Respondi muito alegre enquanto rodava o meu pé, eu já não sentia nenhumas dores e isso era fantástico, graças ao cuidado todo dele. Então, de forma sincera agradeci – Obrigada!

         - Obrigada?! A sério? Eu podia-te ter magoado imenso, Gabriela, e tu agradeces-me?! Tens a certeza que te sentes bem? Tens a certeza que é isso que queres dizer-me? – Falou incrédulo, de forma revoltada e chateada, e eu percebi o que realmente se passava: ele estava irritado com ele próprio por me ter aleijado. Mesmo eu tendo desculpado totalmente a atitude dele e lhe dito isso mesmo, ele ainda não se tinha perdoado pela sua atitude… e eu não percebi o porquê, para mim aquilo era estranho e sem lógica de ser. Reparei que me mexia novamente no pé e estava atento há minha expressão, devia ser para tirar a prova dos 9 e ver se eu estava realmente bem ou se omitia dor.

         Eu, sem raciocinar bem e agindo unicamente por impulso, tirei o meu pé das mãos dele, com ele ainda tentando puxar de volta. Mudei de posição, sentei-me bem no seu colo e tapei-lhe a boca para não o deixar reclamar, nem dizer nada, ele tinha de ouvir aquilo que eu lhe queria dizer...

         - Pedro, olha para mim… Olha bem nos meus olhos… - Pedi ao vê-lo tentar fugir com o olhar do meu e engolir em seco. Para me ajustar melhor no seu colo, eu rodeei as minhas pernas com força em torno do tronco dele e ele sentia-se desconfortável com a nossa posição, havia demasiada proximidade e isso eu compreendia (eu senti o mesmo, o que queria realmente fazer com ele naquela posição nunca o poderia fazer em público, mas tinha de me concentrar para fazer aquilo que devia). – Eu estou bem, graças a TI, estás a ouvir? Se não fosse o cuidado todo e atenção que tiveste comigo, ainda estaria com o pé inchado e com imensas dores. No desporto é normal haver lesões, tu sabes disso tão bem ou melhor que eu, e eu tinha perfeita noção disso mesmo quando aceitei jogar com vocês… Portanto, não te martirizes mais com esta situação, não há motivo para o fazeres! E sim, eu agradeço-te imenso pelo que fizeste por mim! – Falei convicta, afagando-lhe o rosto e beijando a ponta do seu nariz. Olhei intensamente para a ligeira barba dele e acariciei docemente, sentindo-me calma e feliz…

         - Gabriela, independentemente do que possas dizer, eu não me vou perdoar por te ter magoado em momento algum, muito menos perante uma situação ridícula como aquela… Não me perguntes o porquê disso, mas eu sinto uma necessidade louca de te ver bem e feliz e eu só contribui para o contrário ao te magoar, tenta compreender-me! Não sei como, porque nem eu percebo bem… – Respondeu, puxando-me mais para ele, como se me protegesse de algo, não havendo nada que o levasse a me proteger, mostrando-me bem que não me conseguiria largar mesmo que quisesse e eu amava aquela sensação de conforto e proteção.

         - Eu percebo o que queres dizer, acredito… Como que de uma forma completamente inexplicável, só me queres perto de ti, não é? Meu Deus, eu estou a sentir-me assim, o que é que tu tens que me faz sentir assim tão atraída por ti, jogador? – Questionei suspirando e dando-lhe um pequeno e suave beijo no pescoço, sentindo a pele dele tremer toda e ele suster a respiração com força ao meu toque… Era tão bom saber que eu também o afetava e não era somente eu a sentir tudo aquilo.

         - Não faças isso, por favor, coisa boa, não sei quanto mais tempo vou conseguir controlar-me… Tu estás a deixar-me louco de vontade de te levar para um quarto e fazer coisas que não seria delicado da minha parte descrever a uma mulher… Eu nunca me senti assim com ninguém, nunca! Eu sempre consigo ser racional e controlado neste tipo de coisas, exceto contigo… Enfeitiçaste-me por completo, eu já não sei que faça! – Afirmou com o olhar preso no teto, como se pedisse ajuda a Deus e isso levou-me a gargalhar. Se ele queria tanto assim, está na hora soltar um bocadinho do meu lado mais atrevido.

         - Seria interessante conhecer um quarto da casa do grande Luisão, não achas? Infelizmente, ainda não tive o prazer de conhecer nenhum… Queres mostrar-me um deles? – Sussurrei-lhe ao ouvido, mordendo ao de leve o lóbulo da sua orelha. O ambiente entre nós tinha aquecido perigosamente e alguém teria que interrompe-lo como é óbvio…
 
 
 
HELLOOO!!! Aqui trago uma nova fic (uma mini historinha), haverá mais algumas partes (não sei quantas ao certo, vamos ver como corre)...
Espero que gostem e deixem a vossa opinião por favor!
Beijinhos,
Rita B.

sábado, 23 de janeiro de 2016

LIVIN' LA VIDA LOCA


            A maior desvantagem de viver na cidade dos estudantes, como eu, é estar tão longe da cidade que mais amo e tenho fascínio: a minha adorada capital, a cidade do meu Benfica. Ao longo dos anos, sempre que estava de férias implorava aos meus pais para irmos passear à minha amada Lisboa, íamos ora ao Jardim Zoológico, ora ao Oceanário (de forma a não irmos anos seguidos ao mesmo sítio, para não “enjoar” e aumentar a probabilidade da existência de novidades, será demasiado estranho? Se for, lamento, eu e a minha família somos assim mesmo e somos felizes). E, no final dos dias passados por ali, a partida era sempre muito nostálgica para mim, com direito a lágrima no canto do olho e muito silêncio… Como o destino (ou “fado”, se preferirem) gosta muito de mim, deu-me uma melhor amiga em Lisboa para eu ir visitar muitas vezes (Yeah, party!!). Brincadeira? Não, estou a falar muito a sério. Coincidência? Não sei, talvez… mas a verdade é que de todas as cidades em que ela poderia morar, ela mora mesmo na minha capital. Como é óbvio, eu só tenho que aproveitar ao máximo para visitá-la, isso quando consigo poupar dinheiro (o que não é assim tão fácil para mim, infelizmente)… Pois é, vida de rico seria muito conveniente agora, mas não se pode pedir tudo (bem que a minha mãe me podia ter feito rica, em vez de espetacularmente bonita, mas fazer o quê? Problema de ser uma diva… Brincadeira! Ok, esqueçam).

         Mais uma viagem no Intercidades com direção a Lisboa, na fantástica companhia de um daqueles velhotes que babam muito e roncam enquanto dormem (fácil de visualizar, certo?) e quando estão acordados só reclamam ou com frio, ou com calor, ou com a demora da viagem, ou com o facto de estarem desconfortáveis no banco, ou com a casa de banho estar longe (não poderiam queixar-se menos ou, pelo menos, não estarem ao meu lado? Não, isso seria demasiado bom para a pontaria que eu tenho normalmente)... Viagem agradável? Não, mas nada tira a minha alegria e vontade de viajar para Lisboa, aquele sorriso no rosto a olhar pela janela, aquela ansiedade que nem consigo ler o meu livro preferido como deve ser, aquela inquietação que não consigo ouvir uma música mais calma (perceberam a ideia, não?), eu sentia-me tão feliz e não tinha como negar.

         - Já chegaste, baby? – Gritava do outro lado do telemóvel a minha melhor amiga.

         - Olá, sua histérica! Estou bem e tu? Adoro que quando me atendes o telemóvel sejas sempre tão carinhosa e preocupada com o meu bem-estar… Que seria de mim sem uma melhor amiga tão boa a cuidar de mim?Voilà, apresento-vos o meu lado mais irónico, espero que tenham gostado… Todos costumam gostar! (Ou então não…)

         - Não sejas irónica comigo, criatura! Eu só preciso de saber se tu já chegaste e depois, pessoalmente, vejo como estás… Claro que, em Lisboa, e ao pé de mim só podes estar bem… - Falou de nariz empinado. (É uma iludida, coitadinha, o que é que se pode fazer?)

         - Acabei de chegar, sua convencida de meia tigela. Espero que estejas com um copo de Starbucks à minha espera. – E dito isto desliguei, mesmo na cara dela, sem deixar tempo para discussão. (E quem é que manda? Ah pois é, bebé… Sou eu mesmo!)

         Lá estava ela, linda e elegante como sempre. Ela estava no nosso ponto de encontro de sorriso enorme nos lábios, com a minha bebida e os braços bem abertos para me receber. Aquele olhar brincalhão sabia bem o que se seguia, a minha calorosa receção. Quando faltavam uns míseros três metros, corri e atirei-me para os braços dela…

         - BESTIEEEEEE! – Gritei bem ao ouvido dela, fazendo o maior escabeche possível, estrilho ao mais alto nível (Pequena nota: ela odeia que eu faça isso, o que só me motiva a fazer mais intensamente).

         - OMG, para! Já viste o escândalo que estás a fazer? Está tudo a olhar para nós, não tarda levam-te para a Casa Rosa, sua louca! – Reclamou em surdina a olhar para todos os lados.

         Em contrapartida, eu gargalhei ainda mais alto que o normal. Peguei no meu copo de bebida que tanto ansiava e segui caminho para ao pé dos dois rapazes e a rapariga que também aguardavam pela minha chegada, que eram o boy magia da minha melhor amiga e um par de amigos do casal. Já todos nos conhecíamos, uns melhor, outros pior, mas não eram necessárias quaisquer tipo de apresentações…

         - Sem querer ser muito chato, mas está na hora de irmos embora, se não queremos chegar atrasados… - Comentou o namorado da minha melhor amiga.

         - Ir para onde, jovem? Eu já cheguei! O mais importante já está aqui… - Brinquei (apontando para o meu corpo, a mostrar o que era mais importante), sentindo-me meia perdida.

         - Tens razão, amor. Tudo para o carro, está na hora de uma pequena surpresa para a menina “eu sou a mais importante”! – Exclamou a minha melhor amiga, o que recebeu uma careta minha como resposta.

         Mal vi o carro, corri para o lugar da frente e ninguém me tentou impedir (nem podiam, eu não deixava!). Todos sabem da minha fixação por sentar-me à frente, odeio ir nos lugares de trás do carro, principalmente se este estiver cheio… E como eu sou a visita, a turista, a menina a ser mimada, a diva, a top (e tudo o que encontrarem de caracterização espetacular), ninguém me contrariaria. Ao volante ia o boy da minha amiga e enquanto todos conversaram, eu estava distraída ao telemóvel. Decidi tirar uma foto e publicar no instagram (o instagram é só um dos meus maiores vícios, estou sempre atualizada lá; vício do tipo: primeira coisa fazer ao acordar e a última ao deitar)…

 


Turistando por Lisboa <3

 

         Dei uma vista de olhos pelo feed e distraí-me de tal forma que só consegui desligar a minha atenção do telemóvel quando senti o carro parar de trabalhar (viciada mesmo). Nós tínhamos chegado ao nosso destino e eu reconheci-o logo…

         - Eu não acredito! O que é que estamos aqui a fazer? Calma, hoje há jogo da equipa B… OMG! Vamos ver o jogo? – Perguntei e olhei para todos (pergunta muito estúpida e estava na cara a resposta, portanto nem esperei que alguém falasse…) - Adoro ver homens jeitosos a suarem, siga pessoal… – Murmurei, com voz marota.

         - A sério, eu não te volto a trazer-te cá! Acabaste de tirar a minha vontade de assistir ao jogo – Reclamou o boy da minha melhor amiga, na brincadeira.

         Concluindo, fomos os cinco juntos assistir ao jogo da equipa do Benfica B da bancada. O meu olhar fixou-se no número 23 dos nossos vermelhinhos, ele sobressaia naquela equipa. Ele jogou os 90 minutos e eu não consegui deixar de olhar para ele o jogo todo, eu sou completamente fascinada por todo aquele homem, adorei vê-lo a suar, a abanar aquele rabinho jeitoso e mexer aquele corpo trabalhado, deu-me calores (eu não tenho culpa, sou mulher, tenho hormonas e sou heterossexual; que Deus me perdoe por estes pensamentos pecaminosos, mas ele bem sabe que eu de santa não tenho nada, nem o nome).

         No final, eles estavam a passar mesmo à nossa frente e, como eu sou uma pessoa tímida, introvertida e tranquila ao lado de amigos (só que não mesmo!), decidi cometer mais uma loucura para dentro de campo e gritei:

         - Oh 23, não queres dar a tua camisola a ninguém? É que eu gostava de te ver sem ela…

         Escusado será dizer que todos ficaram a olhar para mim e a rir às gargalhadas, enquanto eu fazia o meu olhar mais sexy para o jogador e ele ficava muito corado (ele ficou ainda mais adorável envergonhado, a sério), mas riu-se e piscou o olho. Para infelicidade de todos (especialmente minha), eu não tive nenhuma resposta, eles tiveram que ir para o balneário…

         É nestes momentos que eu só imagino o quão agradável seria a minha vida enquanto mosca, poderia entrar no balneário e ver os jogadores a despirem-se e…

         - Eu não acredito que tu fizeste aquilo! Foi hilariante… - Comentou a minha melhor amiga (interrompendo a bela da visão que eu estava a imaginar que teria enquanto mosca).

         - E uma grande vergonha… - Murmurou a outra rapariga do grupo, com voz meio enjoada (eu não conheço a moça lá muito bem, mas não gostei nada da atitude).

         - Lamento, querida, eu sou assim… Aceita que dói menos. Não gostas de mim, já sabes, nos dias que eu estiver por Lisboa manténs-te afastada deste grupo. É muito simples e prático! – Levantei-me com as minhas coisas e fui saindo.

         - Espera por nós… - Ouvi gritarem ao fundo, mas nem liguei mesmo.

         Regra geral, após os jogos dos meninos, tentamos ficar no parque de estacionamento numa zona que dê para tirar fotos com eles e essas coisinhas todas. Portanto, eu fui para lá e para esperar cusquei mais um pouco no meu vício (sim, eu sou mesmo viciada, se conhecerem um “Instagram Anónimos” ou algo do género, inscrevam-me e avisem por favor), neste caso foi mesmo só para matar tempo, enquanto ouvia umas musiquinhas bem aleatórias… Eu comecei a sentir alguma agitação à minha volta, mas não estava com muita paciência para dar uma de fã chata (que é o meu normal, eu sou essa típica fã chata) em cima dos jogadores, só me restava continuar à espera no meu canto. E daria tudo certo se não sentisse muitos olhares sobre mim, o que me leva a levantar os olhos e ver isto:


         - Era isto que querias quando gritaste para dentro de campo, jeitosa? – Perguntou-me de sorriso no rosto (é claro que estava de sorriso, deve ter percebido que bloqueei completamente a olhar para aquele corpinho).

         - Nada mau, sim senhora, o Benfica tem jeito a contratar jogadores e a pô-los em forma… Já agora, obrigada pela vista, jogador! – Agradeci piscando o olho (infelizmente com aquilo tudo à frente dos meus olhos, eu não consigo mandar uma boca à altura do moço).

         - Sempre às ordens! Queres ir dar uma volta? – Questionou, fazendo ruído a acelerar a mota (ele pensa que é assim?! Assim tão fácil? Mostra o corpo perfeito e consegue tudo o que quer? Provavelmente sim, mas eu odeio ser fácil).

         - Eu estou com uns amigos, não os vou abandonar… E, se tu queres mudar isso, precisas de fazer MUITO melhor. Experimenta noutro dia, jogador, ou tenta com outra pessoa… - Afirmei alegre ao vê-lo ficar de boca aberto e todos a olharem espantados para nós (sim, eu sou louca para recusar aquilo).

         Entretanto, olhei para a minha melhor amiga e pedi-lhe com o olhar para irmos embora, ao que ela percebeu e “obedeceu” (lindo, bobby!). Todavia, eu sabia que eu não me conseguiria escapar a uma conversa com ela sobre isto e as pequenas reprimendas de “mãezinha” que ela adora dar…

         O fim-de-semana passou a uma velocidade assustadora (na minha capital, o tempo voa demasiado), dando lugar uma semana nova, seguindo-se outra semana e outra… Quando vou a reparar, já um mês tinha passado desde a minha estadia em Lisboa e eu precisava urgentemente de lá voltar (eu sempre preciso)!

         Aproveitando que havia feriado numa quinta-feira e eu ter quarta tarde livre e sexta dia livre, meti-me num comboio à hora de almoço e fui para Lisboa. Eu estava com imensa vontade de sair à noite e obriguei ao grupinho da minha melhor amiga a sair comigo, apesar de não ser muito a onda deles (sim, eles são tipo velhos que não apreciam ir a discotecas, mas acho que em Lisboa isso até é comum). Eu queria dançar, beber e divertir-me na capital (eu, quando vou para a “borga”, aproveito a típica noite académica da minha cidade, ou seja, tudo à conversa num bar a beber álcool até cair). No entanto, eles pediram para a escolha do local ser por conta deles e, como eu sou de fora, aceitei… o que se demonstrou o maior erro da minha noite. Porquê? Porque eles escolheram exatamente aquilo que eu não queria, nem suportaria passar naquela noite…

         Explicando como deve ser, estávamos num café, sentados numa mesinha, a conversar sobre cenas do dia-a-dia e revistas cor-de-rosa, a beber umas cervejinhas (os rapazes, porque as moças não bebem álcool e eu precisava de algo bem mais forte que uma cervejola) e a olhar para uma televisão que passava um jogo qualquer da liga alemã (não é que eu não goste da liga alemã, mas não era o que eu veria numa saída à noite). Já me esquecia, a música de fundo era daquelas bem calmas, que adormece qualquer um… e eu com vontade de dançar, beber e cometer alguma loucura. No início, pensei que fosse só o primeiro “spot” (tipo para aquecer), mas pela postura deles vi que aquele era O “spot”…

         Concluindo, obriguei-me a aguentar até à meia-noite (como a Cinderela) naquele ambiente, depois ia salvar a minha noite. Como tal, aproveitei para publicar uma foto no vício que tinha tirado ao sair de casa da minha amiga:

Vem comigo e vais ver, que eu faço valer a pena…  ;)

        

         De repente, recebo uma sms no meu telemóvel: “Miúda, sempre estás por Lisboa? Vem ter connosco… Ele hoje atua por cá, lembraste? E nós já temos saudades tuas!”. Aquela mensagem mais oportuna não podia ser, estava na hora da minha deixa de sair e ir ter uma noite como deve ser, ao que não hesitei em responder “Gata, nem sabes o timing perfeito que tens, libera a minha entrada porque sou pobre e não tenho bilhete… Vou a caminho, em 30 minutos estou aí. Estou a precisar de uma noite a sério e conto com vocês! Adoro-vos, casal maravilha!”.

         - Desculpem, fofinhos, mas requerem a minha presença noutro sítio e eu não consigo ficar tanto tempo sossegada! – Afirmei levantando-me com as minhas coisas todas na mão.

         - Onde e como é que tu pensas que vais? Já agora vais dormir a minha casa? – Interrogou irritada a minha melhor amiga (eu sei que ela não gosto muito das minhas saídas à noite, principalmente do pouco que sabe, mas ela que se acalme que eu não posso ficar ali parada, isso é algo que ela quer, não eu!).

         - Discoteca. Táxi. Não sei e depois vejo… Beijinhos para todos, porque já se faz tarde! – Despedi-me já de costas para eles, não podia esperar mais e não podia ouvir mais reclamações da parte da minha melhor amiga.

         Na minha mente, o plano era perfeito: saia do bar, apanhava um táxi e seguia para a discoteca… Mas, não pensei nos problemas que podem surgir, como: 1) não haver muitos táxis, 2) os que passam vão cheios, 3) é demasiado arriscado aventurar-me a pé sozinha (posso ser louca, mas não sou suicida). Só me restou arranjar uma solução: entrar no primeiro táxi a passar mais vazio e tentar a minha sorte… E foi o que eu fiz! O táxi parou num semáforo, eu abri a porta e entrei logo.

         - A menina está louca? Faça o favor de sair, não vê que já tenho um cliente? – Perguntou o taxista com uma voz bastante calma, o que me agradou (se tem calma, será mais fácil de ceder ao meu pedido).

         - Vá lá, não pode deixar esta menina indefesa na rua sozinha… Vai deixar o seu cliente no devido destino e depois deixa-me na discoteca, só estou a marcar lugar no seu táxi… - Falei fazendo o meu olhar de cachorrinho, enquanto batia as pestanas.

         - Estou a ver que queres ir dar uma volta comigo… Os teus amigos abandonaram-te desta vez? – Imediatamente reconheci a voz do jogador 23 do Benfica B e aquilo fez-me gargalhar bem alto.

         - Hello! Hello, jogador! – Cumprimentei, olhando bem para ele. – Os meus amigos são uns velhos que querem estar num café a beber cervejas a noite toda, em vez de aproveitar a noite como deve ser. E, como surgiu uma proposta interessante, decidi abandoná-los…

         - Há lugar para mais um nessa proposta? Não me apetece ir já para casa…

- Senhor taxista, afinal siga já o meu caminho… Porque a noite ainda é uma criança e eu vou aproveitá-la ao máximo! – Afirmei, piscando o olho ao jogador e viu a sorrir matreiro (sim, a noite vai ser muitoooo boa!).

Quando o taxista parou no nosso destino, o jogador insistiu em pagar, alegando que era o mínimo já que eu ia salvar a noite dele (e eu deixei passar desta vez, porque não sei como vai ser a minha noite e se preciso de andar de táxi uma vez mais). À entrada havia três seguranças que marcavam três filas diferentes: com bilhete, sem bilhete e VIP. Como normal, a VIP não tinha fila (ainda bem, porque eu odeio esperar). Eu queria despachar isto e ir lá para dentro antes de começar a atuação, então peguei na mão do moço e puxei-o em direção à nossa zona.

- Boa noite! Identificação? – Pediu o segurança.

- Boa noite! Eu e o meu amigo viemos da parte do artista, qualquer coisa basta perguntar ao mesmo… - Afirmei, antecipando as perguntas por causa do moço que estava comigo.

O segurança deu-me sinal que podias passar sem levantar nenhuma questão, o que eu achei meio estranho (só que não vou reclamar o que está bom). Eu continuava de mão dada àquela maravilha humana e ele mantinha-se calado a olhar para todo o lado admirado. Na zona VIP, uma varandinha no topo da discoteca que tinha vista para tudo, estava uma dúzia de pessoas a beber, rir e conversar, visto que a noite ainda estava para começar…

- Pequena, sempre vieste! – Gritou o meu artista preferido de braços abertos para mim.

- A tua Mrs. Cor de canela não avisou? Eu disse-lhe que vinha na mensagem… – Perguntei, dando-lhe um beijo na bochecha e indo ter com a namorada dele.

- É claro que eu o avisei, mas ele começou com aquelas coisas de “será que ela vem mesmo?”. Tu sabes como ele é… - Afirmou a morena mais linda que eu conheço e esposa do artista. – Não sabia que trazias companhia, mas ainda bem que avisei na entrada que isso poderia acontecer… - Foi nesse momento que me lembrei do jeitoso, portanto apresentei-os.

 

A noite foi de loucos e todo o dia seguinte também, segui o meu lema de vida: “Livin’ la vida loca” tão bem, que quando finalmente voltei para ao pé da minha melhor amiga, parecia que tinha passado por uma realidade paralela. Acho que não é preciso dizer o que eu estive a fazer com o jogador o tempo todo em casa dele, certo? Não seria bonito uma mulher descrever isso (sim, eu estou a ser delicada e respeitar as “regras básicas de uma senhora educada”, não por querer ser uma dama à maneira, mas porque não gosto de contar esse tipo de coisas; dá para perceber? É a minha intimidade), a única coisa que posso adiantar é que o corpinho gostoso esconde um pacote espetacular que é manejado de uma forma perfeita (não, não estou a exagerar). Ah, antes que alguém pergunte, sim, eu e o jogador trocamos contactos, será que vai rolar algo mais? Não sei, nem me interessa agora, se for para ser, será… Afinal, isto não passou de um caso como tantos outros, tirando ser um jogador que gosto bastante…
 
 
 
Hello Hello! Aqui está a primeira minific!
Se gostaram e quiserem mais um bocadinho desta mini história, comentem (em anónimo ou com identificação) ou mandem mensagem no facebook...
Se não gostaram, eu publico outra história diferente...
Ah e aceito MUITO sugestões! Obrigada!
Beijinhos,
Rita B.