No capítulo anterior:
Naquele momento, ao ver o
quanto os meus irmãos sentiam a minha falta e sofriam com a minha ausência, o
meu coração mirrou como uma passa seca. Por um lado, eu também preferia estar
no Porto, pertinho deles. Mas, e o Pedro? Eu não sobrevivia afastada dele, eu
dependo dele, eu vivo por ele… A vida é complicada e há sempre escolhas
difíceis que temos de fazer, sem dúvida que esta é uma delas para mim…
O dia foi passado todo em família e
à noite seguimos todos juntos para o estádio do Dragão assistir ao clássico. O
Pedro e o Francisco tinham arranjado bilhetes VIP para nós, assim evitávamos
muita confusão com as crianças, o que era ótimo. Eu estava muito nervosa,
sentia um pequeno mau pressentimento, nada de extraordinário, mas tendo em
conta o jogo de hoje, tinha algum receio… Desde que entrou em campo, o Pedro já
espreitou várias vezes para o meu lugar e sorria sempre, o que originou bocas
da parte dos meus pais. O jogo começou e o meu coração batia a um ritmo bem
acelerado. Só se ouvia gritos e cânticos de ambos os lados, tanto Benfiquistas
como Portistas estavam em grande peso naquele estádio. Os minutos iam passando,
sem grandes problemas em campo, até que numa jogada em que o Oliver ia a correr
no ataque, vejo o Pedro a tirar a bola duma forma espetacular. Claro que ouve
gritos de contentamento dos benfiquistas e de protesto dos portistas. O Oliver
estava no chão a tentar fazer-se à falta e ao aperceber-se que o árbitro não ia
assinalar nada, levantou-se e empurrou o Pedro. O que eu mais temia ia começar,
uma discussão entre aqueles dois…
(PEDRO)
O jogo estava a correr bastante bem,
relativamente pacífico para um clássico entre as duas melhores equipas
portuguesas. Eu sabia que a Inês estava ali a ver-me com a sua família e isso transmitia-me
apoio e paz, dava-me mais força… Não é para me gabar, mas eu estava a jogar
muito bem, concentrado e empenhado, tinha de fazer boa figura com os meus
sogrinhos e cunhaditos no estádio. Até que numa jogada perto do meio campo, eu
vi o idiota do espanhol (que se diz amiguinho da minha namorado) a correr com a
bola, então resolvi pará-lo. Eu saquei-lhe a bola de forma limpinha e não tinha
como negar, sentia-me feliz por isso… Ele bem que tentou fazer as fitas típicas
dele para ver se conseguia falta, mas foi em vão. Óbvio que eu não me controlei
e ri-me na cara dele.
- Oh cabrón! Estás a
rir-te de quê? – Gritou o palhaço ao chegar perto de mim.
- És um péssimo ator, sabias? Nem o
árbitro caiu na tua atuação…
- É, engraçado, mas a Inês bem que adorava
as minhas “atuações” com ela, ela nunca me largava, sempre queria mais… -
Sorriu ironicamente. Agora sim ele jogou
pesado, quem é ele para falar da minha namorada?
- Lava a boca antes de falares da
Inês, ouviste? Tu não és ninguém na vida dela, tu és um passado que ela deixou
para trás… Bastou eu pedir uma vez e ela foi logo comigo para Lisboa. Não achas
que se fosses realmente importante, ela não tinha logo tentado arranjar forma
de estar contigo, uma vez que ela está hoje no Porto? - Afirmei apontando-lhe o
dedo, tentando controlar-me. Ele queria
arranjar problemas em pleno jogo? Não podia permitir que ele me prejudicasse…
Além disso, aposto que a minha namorada me vai dar na cabeça se houver bronca.
– Mas, em vez disso, ela vai voltar cedo para Lisboa, para estar com o namorado
dela que sou eu. Eu tenho o que tu sempre quiseste, a Inês…
O espanhol percebeu que eu estava a
picar e aproximou-se muito de mim. Como eu queria mostrar-lhe que ele não
passava a perna por cima de mim, fingi que ele me tinha mandado uma pancada com
a cabeça e o peito. Percebi que devo ser muito bom ator, porque o árbitro que
vinha atrás de mim deu cartão amarelo a Oliver Torres e a mim nada… Eu estava a
entrar numa guerra que podia acabar muito mal, mas ele não iria sair impune
depois de andar a falar da mulher da minha vida…
(INÊS)
Se já havia barulho no estádio, esse
aumentou ainda mais… Os portistas protestavam contra a decisão do árbitro e os
benfiquistas davam apoio ao Pedro. O treinador da equipa da casa já estava a
barafustar por todo o lado e eu tinha receio da confusão que se começava a
instalar. Eu senti o olhar do Pedro em mim, mesmo antes de direcionar os meus
olhos para ele. Percebi que ele estava com receio da minha reação e precisava
que eu transmitisse a força e tranquilidade para ele conseguir continuar no
jogo. Eu tinha noção que as palavras trocadas entre o Pedro e o Oliver tinham
sido sobre mim, mas não sabia o quê em concreto e tinha receio em saber… O
Pedro encenou aquela falta, porém isso era uma resposta a algo que o Oli tinha
feito. Eu não precisava de saber muitos pormenores, pois conhecendo o Pedro,
como eu conheço, tinha uma pequena ideia do ocorrido. Eu reprovei aquela
situação toda na troca de olhares com o meu namorado e, pela sua cara, ele
tinha recebido a mensagem… Todavia quando ele me piscou o olho, eu mandei-lhe
um beijo, mostrando que eu estaria sempre do lado dele, independentemente da
situação.
- Mana, o Pê e o Oli não xão amigox?
– Perguntou a Mada para mim.
- Achas? Mada, os dois gostam da
mana… - Respondeu, como se fosse muito óbvio o meu irmão.
O Mateus compreendia à maneira dele
a situação, ele via o Pedro como meu namorado e o Oliver o ex que se estava a
meter, o que era quase isso… Eu sentia falta disto, de ficar surpreendida com o
que estes meninos já conseguiam perceber tão rapidamente e cheia de vontade de
rir. Eu tinha de arranjar uma forma de matar saudades, porque estas poucas
horinhas do dia de hoje com eles não chegam…
O jogo continuava sem grandes
problemas, com uns pequenos picanços, nada de extraordinário. O intervalo já
tinha passado e o jogo estava empatado a 0. Mesmo nos últimos minutos da segunda
parte, o jogo a chegar o fim e o Benfica ganhou um livre, o que poderia ser a última
chance de golo do jogo. O árbitro apitou e só vejo a bola a ir na direção à
área onde estavam alguns jogadores, o Pedro saltou mais que os outros, cabeceia
e GOLOOOO!
A festa foi vermelha, tudo a saltar e gritar,
incluindo os meus irmãos que estavam em pulgas. O meu homem tinha trazido a
vitória para este jogo tão difícil, exigente e importante. Eu vejo os meus dois
jogadores a abraçarem-se, o que me fez sorrir ainda mais, é tão bom ver aquela
amizade fantástica entre o meu primo e o meu namorado. De seguida, o Pedro
correu que nem louco na minha direção, fez um coração com as mãos e atirou-me
um beijo. Aquela demonstração de amor, o golo dele, aquela festa toda era muita
emoção para mim e eu fiquei com os olhinhos cheios de lágrimas rapidamente,
respondendo apenas um “Amo-te” silencioso, mas eu tinha a certeza que ele tinha
percebido. Logo o árbitro apita e o jogo deu por terminado. Muita festa se
seguiu no estádio, nas redes sociais, na rua…
Já estava acomodada no apartamento
do meu primo com os meus irmãos, eles iam passar ali uma semana comigo para
matar saudades. Não tinha sido nada fácil convencer a minha mãe, mas com muita
insistência minha, dos gémeos e do meu primo, eu consegui! Eles iam dormir
comigo na minha cama, todos juntinhos. Antes de dormir, publiquei no vício uma
foto que tirei deles fofinhos adormecidos.
@inescorreia: Boa noite para mim que tenho companhia
duplamente especial…
Segunda-feira começou com a correria
do costume, com uma pequena agravante é que eu agora tinha duas crianças
comigo. A minha sorte era eles já serem muito autónomos e logo nos despachamos
com o Kiko rumo ao Seixal. Pelo caminho já tinha combinado com o meu primo, se
houvesse algum problema deles ficarem comigo na sala da fisioterapia, eles
ficavam a assistir na bancada ao treino da equipa. Era arriscado? Um pouco, mas
eles compensavam qualquer risco e stress… Se hoje não desse certo, eu teria que
arranjar solução para o resto da semana, mas eles iriam ficar comigo.
- Bom dia, campeão! – Cumprimentei o
Pedro que tinha chegado ao mesmo tempo que eu, os meus irmão e o meu primo.
- Bom dia, pequenino! – Respondeu,
dando um beijo demorado na minha bochecha. – Bom dia, Mada! Bom dia, Teus! –
Cumprimentou agachado à frente dos meus irmãos.
- Pedo, nóx vamox ficar com a mana
aqui, sabiax? – Perguntou a Mada toda entusiasmada.
- Que bom! Pode ser que a Inês mate
todas as saudades de vocês… Posso contar-vos um segredo? Não podem contar a
ninguém – Falou ligeiramente mais baixo o meu namorado para os pequeninos – Mas
a vossa irmã chorava várias vezes à noite, antes de dormir, porque sentia a
vossa falta. Ela adora-vos!
- A sério? – Perguntou o Teus de
boca aberta, admirado.
Não era totalmente verdade, eu não
tinha chorado imenso, mas eu morria de saudades deles e com a descrição do
Pedro era uma forma deles perceberem isso. O mais engraçado é que eu não tinha
dito nada a ele, mas ele sabia, ele conhecia-me demasiado bem…
Seguimos todos juntos para dentro do
centro de treinos e, por experiência, deixaram-me ficar com os dois meninos na
salinha da fisioterapia. Eu arranjei um cantinho perto de mim para eles, onde
poderiam espalhar os brinquedos deles e estar mais à vontade, sem me atrapalhar
em nada, eles ficaram ali a ver desenhos animados, a pintar e a comer bem
sossegadinhos… O que se tornou perfeito! Eu sabia que, em princípio, tudo
correria bem, eles podem ser muito traquinas e irrequietos (algo típico da
idade deles), mas também se entretinham os dois bem facilmente. Além disso,
bastou-me dizer-lhes que só assim eles poderiam passar o dia todo comigo, então
eles perceberam que tinham de se comportar a sério… Todos que trabalhavam
comigo ficaram a pensar que eles eram dois anjinhos, sossegadinhos (nem sabiam
o quão errados eles estavam, enfim…).
@inescorreia: Muito entretidos no trabalho da Nenê…
Eles apenas saíam do mundinho das
brincadeiras deles, quando viam algum jogador a entrar. Aí ficavam muito sérios
e atentos a olhar. Para eles, mesmo tendo um primo jogador profissional, era
novidade estarem tão perto de tantos “jogadores da bola”, portanto ficavam
todos fofos perto dos famosos. O ponto alto da confusão foi quando o Rúben
Amorim apareceu por lá para eu dar uma vista de olhos na coxa dele (massagem e
assim) e como eles já conheciam o “tio Rú” não paravam de meter conversa com
ele, só queriam festa. Aí sim tornou-se complicado, eram três crianças para eu
tentar sossegar… Se já era uma tarefa e tanto com os meus dois gémeos, imaginem
com a criança-mor, vulgo Rúben Amorim. Mas eu venci e tudo correu muito bem! Ou
seja, eu podia voltar a levá-los para lá…
À tarde, eu fui para o ginásio (mais
especificamente para a aula de dança que eu tinha para dar) com a minha menina
e os três homenzinhos (o Mateus, o Francisco e o Pedro) ficaram em casa a jogar
playstation. O Mateus entrou em
delírio por poder jogar jogos de vídeo durante a semana, era algo que estava
proibido a fazer em casa (regras da minha mãe). As mulheres iam para a dança,
os homens ficavam a jogar em casa, tão assustadoramente típico.
Enquanto eu dançava com o meu grupo,
eu apercebia-me da minha irmã no cantinho dela a tentar imitar-nos, o que foi
motivo de risada e uma ideia genial para a atuação desta semana surgiu. Ela
podia dançar connosco desta vez, ela está por Lisboa e gosta disto, portanto
não havia motivos para não o fazer… De certeza que iria ser diferente, original
e a Madalena iria amar. Todos pareceram apoiar a minha ideia e fomos pôr o
plano em prática, começamos a pensar na coreografia para nós e para a minha pulguinha
elétrica.
@inescorreia:
Dançarina por uma semana? Siga treinar!
A terça-feira passou a uma
velocidade assustadora, com direito a um jantar especial feito por mim e pelas
crianças, reviver os meus tempos na cidade invicta. Eles queriam fazer piza e
bolinhos e eu achei uma ideia divertida e muito engraçada. Eu queria marcar a
estadia deles na capital com atividades diferentes do que eles fariam se
estivessem em casa com os meus pais e que os alegrasse muito, a semana comigo
tinha de ser perfeita. A cozinha ficou um caos, eu e os meus irmãos tínhamos
farinha por todo o lado, mas gargalhadas foi algo que não faltou com toda a
certeza. Esta era a minha forma de recompensa-los pela minha permanente
ausência. O Pedro e o Francisco quando chegaram ao apartamento, depararam-se
com a nossa brincadeira e sujeira total, juntando-se depois a nós…
@franciscocorreia32: Foi por isto
que vieram para Lisboa, meus cozinheiros…
- Oh meu Deus, as pizas estão
fantásticas… Uma delícia! – Gritou o meu primo enquanto comia.
- Kiko, não sejas porco! Olha o
exemplo que estás a dar aos gémeos, falar de boca cheia… - Reclamei, revirando
os olhos, ao que recebi como resposta uma língua de fora daquela “criança
grande”.
- E tu, Pê, gostas? – Perguntou a
Madalena cheia de esperança.
- Sim, adoro! Acho que deviam ficar
aqui mais tempo… - Brincou o meu namorado.
- Estás a reclamar da minha comida,
Pedro Miguel? – Perguntei, fingindo chateada.
- Nunca, pequena. Sabes que adoro tudo
o que tu fazes… - E pisca-me o olho. É
nestes momentos que eu me pergunto: Como é que eu consigo resistir a tanta
perfeição junta? Não consigo, simples…
- Amo-te! – Murmurei
beijando-o com amor.
Desta vez, o Mateus foi o primeiro a
protestar por assistir àquela pequena demonstração de afeto, tal e qual o meu
primo, homens… Em contrapartida, a minha princesa ficou com os olhinhos a
brilhar para nós. E isso era ótimo, era sinal que ela aprovava mesmo o meu
namoro. A verdade é que eu já sentia falta de estar com o Pedro, já não dormia
agarradinha com ele há uns dois dias e mal estava a aguentar, ele já era
essencial para mim, estar com ele era vital para a minha sanidade mental e
agora tínhamos de estar mais afastados que o nosso normal… Eu queria sentir o
calor do corpo do meu namorado, queria-o mais perto de mim… Eu estava demasiado
carente, justificação? As minhas fiéis e adoráveis companheiras hormonas tinham
dado sinal, devido àquela altura do mês. Sempre fui demasiado hormonal e desde
que namoro com o Pedro, sinto-me ainda mais carente. Estes pensamentos
deixaram-me meio que em baixo e eu não conseguia tirar os olhos daquele homem.
Ele percebeu isso, apertou a minha mão por cima da mesa (visto que ele estava à
minha frente) e interrogou-me com o olhar. Eu estava apenas a olhar para ele,
fixamente, que nem me apercebi quando o meu primo começou a falar:
- Piolho, hoje queres dormir comigo?
Como fazíamos quando eu ia visitar-vos a casa? – Questionou o meu primo ao meu
irmão. – E a princesinha podia dormir com a mana e o Pê…
- Eu não acho uma ideia, eu daqui a
pouco já vou embora… - Confessou o Pedro.
Será que ele não queria estar a
dormir com a minha irmã? Será que ele achava que a nossa relação não era assim
tão séria e importante? Não, isso não podia ser verdade, não depois de ele me
ter contado aquele segredo…
Ola ;)
ResponderEliminarGostei, espero que continues
Beijinhos
Ritááá xD
Olá
ResponderEliminarEu gostei muito, não te preocupes que o capítulo está bom, por isso continua!
Beijinhos.