No capítulo anterior:
Segunda-feira de manhã tem sempre aquela pequena
confusão na parte da fisioterapia, depois do jogo temos de dar uma vista de
olhos nos jogadores que apresentam algumas queixas e, se necessário intervir,
sem deixar que possam agravar alguma lesão. Estava tão concentrada no trabalho
que nem dei pelo passar das horas e só acordei para a realidade quando vejo a
Diana ao meu lado a dizer que tínhamos de ir almoçar.
O almoço foi recheado de conversa, desde
assuntos como a meteorologia, roupa, futebol, até que eu decido tocar no
assunto que eu mais queria falar e fui direita a ele:
-
Di, o que é que há entre ti e o meu primo?
Eu vi a expressão
facial da minha melhor amiga mudar, deixou de ter essencialmente tranquilidade
espelhada no rosto para ter algum receio. Até agora eu achava que estava
minimamente a par da situação deles, devido a conversas quer com ambas as
partes. Só faltava uma pequena atualização e a Diana estava com medo da minha
reação…
- Entre mim e o
Kiko? – Perguntou ela, enquanto enrolava um pequeno grupo de cabelos, uma
pequena prova que ela estava nervosa.
- Desenvolve… Eu sei
que eras tu na foto que ele publicou no fim-de-semana, eu sei que vocês já
curtiram várias vezes… Vá lá, amiga, conta-me mais pormenores! – Exclamei
morrendo de curiosidade. Claramente visualizei a minha deusa interior na sua
cadeira de baloiço, as agulhas e o tricot nas mãos, os pequenos óculos ao fundo
do nariz e ela a espreitar por cima dos óculos, com aquele ar de velha cusca.
- Oh Nê, porque é
que o teu primo tinha de ser tão giro, querido e bom? – Perguntou bufando, o
que me levou a gargalhar. – A sério, eu não o consigo tirar da cabeça, ele
deixa-me doida… Não existe propriamente um “nós”, andamos juntos e ficamos
exclusivamente um com o outro.
- Tem calma, esse é
o primeiro passo, quem sabe o próximo não será um namoro… - Confessei, sonhando
que aquelas duas pessoas tão importantes para mim ficassem juntinhas.
- Não sei. O teu
primo não é de compromissos sérios e eu não quero sofrer mais por causa de
homens… - Murmurou cabisbaixa.
- Tu sabes, os dois
grandes inimigos das mulheres começam por “h”, são os homens e as hormonas. –
Comentei, fazendo uma careta.
Por muito que eu
quisesse empurrar aqueles dois para os braços um do outro, eu não podia
meter-me demasiado, se der asneira, não convém eu estar envolvida. Esta é a
opinião do Pedro, deixá-los fazer tudo ao ritmo deles e da maneira que eles
acham mais correta. Mas, por outro lado, se eles não avançarem com medo ou por
casmurrice? E se eles desperdiçarem a chance de ficar com “o seu grande amor”,
se eles perderem o seu “felizes para sempre”? Eu queria ajudar, porém não
queria atrapalhar… Tenho de ficar atenta e de olho neles, essa é a melhor
decisão a ser tomada, acho eu…
Já era de noite
quando eu saí do ginásio de regresso a casa, eu estava estoirada, só queria um
banho bem relaxante e dormir. Ao entrar no apartamento ouço muitas risadas e
diferentes vozes, pessoalmente eu não queria confusão agora em casa, mas o que
posso fazer? Em primeiro lugar, o apartamento é do meu primo, apesar de eu
contribuir nas contas e lidas domésticas, etc, a casa é dele. Depois, como não
moro sozinha, sujeito me a coisas destas. Apesar de tudo, já tinha um pequeno
sorriso amarelo montado no rosto, eu teria que ser minimamente simpática, podia
não fazer festa com a visita de pessoas, mas eu sou educada. Na sala, deparo-me
com três homens: o meu primo, o meu namorado e…
- EU NÃO ACREDITOOOO!!!!
O QUE É QUE TU ESTÁS A FAZER AQUI?! – Gritei ao ver, nada mais, nada menos que
o meu melhor amigo. – Preto do meu coração! – Exclamei atirando-me literalmente
para o colo dele. Os rapazes só sabiam rir e eu não conseguia conter a minha
alegria e animação. – O que é que estás a fazer aqui, meu amor?
- Eu sei que tu és
levezinha, mas escusas de me esborrachar assim, boneca. Eu recebi uma proposta
de trabalho, então a empresa transferiu-me e voilà, aqui estou eu! –
Comentou sorrindo.
- Quer dizer, que tu
vais ficar por cá para valer? – Perguntei, cheia de esperança.
- Sim, loirão, nem
ao vires para Lisboa te viste livre de mim… - Brincou, abraçou-me apertado e
mordeu a minha bochecha.
Em questão de
minutos, consegui convencê-lo a vir para o meu grupo de dança, a dançar
novamente a meu lado num grupo, já que ele precisa da dança para conseguir
viver, tal como eu. Tudo bem, está na hora de explicar quem é o meu preto. O Jorge
Barbosa, vulgarmente chamado Jójó, é um jovem mulato que nasceu no Brasil e com
apenas 3 anos veio com os pais para Portugal. Ele é a maior personagem que eu
já conheci, é o meu melhor amigo e era o meu maior companheiro de dança e atuação,
não consigo viver sem ele. No Porto, ele praticamente vivia em minha casa, os
meus pais tratavam-no como um filho e ele era o meu apoio para tudo, ele estava
sempre lá, longe ou perto, ele estaria sempre comigo. Segundo ele, se a dança
nos juntou, só a morte nos pode separar e ao que parece, o destino decidiu que
nós precisávamos de viver perto um do outro e juntos noutra cidade. Para além
de ser o meu apoio incondicional, o Jójó é o amigo que qualquer mulher quer
ter, compreende tanto o lado masculino, como o feminino. Ele é a companhia
perfeita para ir às compras, por exemplo, gosta de moda, gosta de compras e
sabe dar dicas sensacionais no que fica bem, ou menos bem, numa mulher. Se
ainda resta dúvidas para alguém, o Jójó é bissexual, ou seja, praticamente que
podemos dizer que “tudo o que vem à rede é peixe”, pelo menos em teoria é
assim, na prática nem tanto. O meu amigo tem uma preferência em relações por
homens, mas não aguenta muito tempo sem ter sexo com uma mulher, é uma
necessidade dele. A verdade é que eu fui das poucas mulheres que ele insistiu
bastante para tentar algo, nem que fosse um beijo, e nunca conseguiu nada,
talvez assim é que conseguimos nos tornar verdadeiramente amigos, nunca houve
uma relação entre nós para além disso...
Mais uma semana já
ia quase no fim e tudo parecia estar a correr bem há minha volta, eu tinha
namorado, emprego, bons e grandes amigos por perto, mas desde a tarde anterior
que eu andava com uma agonia enorme dentro de mim. Eu tinha andado meio
indisposta e umas dores na zona abdominal (mais ou menos) regressaram, o que me
deixou um pouco preocupada, mas, como sempre, tentei não dar demasiada
importância a isso até receber um telefonema do Dr. Gonçalo, o médico que
tratou de mim no Porto, o meu médico.
FLASHBACK:
Estava
deitadinha no sofá, com a televisão ligada num filme qualquer, a tentar
distrair e descansar a minha cabeça, quando vejo o meu telemóvel a tocar. No
ecrã, visualizo o contacto do Dr. Gonçalo e fico surpresa com a ligação, mas
logo atendo:
-
Já com saudades, Dr.? – Perguntei na brincadeira.
-
Inês, quando é que estás a pensar fazer Aquele exame? Não podes adiar muito mais,
tu tens de ver como estás para eu conseguir ter a minha paciente favorita a
100%... Eu sei que tens receio, mas tu precisas de fazer mesmo esse exame! –
Falou meio impaciente e preocupado.
-
Gonçalo, eu agora não tenho como ir aí ao Porto… Eu sei que tenho de fazer o
exame e URGENTEMENTE, as dores voltaram – Desabafei num tom de voz muito baixo.
-
Ok, não tenho outra solução. Eu vou falar com um amigo meu, tu vais ao hospital
ter com ele, fazes o exame e ele envia-mo logo. Se for algo muito grave, eu
tento ir aí para a semana e levo-te “à faca”…
(PEDRO)
O meu treino da tarde
acabou e eu fui em direção à zona da fisioterapia com o Francisco, íamos ter
com a Inês de surpresa, mas ela não estava lá. Eu achei muito estranho, mas
essa sensação só piorou quando me disseram que ela não estava porque tinha
pedido a tarde de folga e não me disse nada. Eu sei que ela não me deve
justificações, nem ao primo, mas ela não é assim, ela teria dito algo. O pavor
tomou conta da mim e o pânico não largava o meu peito, a minha namorada andava
estranha nos últimos dias e hoje de manhã estava demasiado pensativa.
Quando decido sair do centro de treinos, com o
Francisco, recebo a visita inesperada dos meus pais. Segundo os meus cotas,
eles queriam ver como eu estava, já que cada vez dava menos notícias,
justificação? Agora eu tenho uma vida amorosa, não tenho tanto tempo para lidar
com a família… Apesar da vontade não ser nenhuma, levei-os, como sempre, a dar
um pequeno passeio e terminamos no meu apartamento. Eu não largava o telemóvel
e a Inês mantinha o dela desligado e não dava notícias, nem estava na casa dela
(visto que o Francisco já lá estava e nós tínhamos prometido que o primeiro a
estar com ela, contactava o outro). A minha percebeu nitidamente que eu não
estava bem, então não contrariou muito ao constatar que o passeio tinha sido
mais curto que o normal e eu queria ir para casa. Por muito que eu pareça um
filho horrível, a minha vontade de estar com os meus pais era nenhuma, eu só
queria procurar a mulher da minha vida, eu precisava de saber dela rapidamente,
o aperto que eu sentia no peito e a falta de contacto com ela eram sinal que
algo se passava com ela.
A minha mãe adentrou
pela minha casa, mal eu abri a porta, deixando eu e o meu pai para trás à
conversa. Ela segue disparada para sala na sua revisão do estado do apartamento
do filho, cena típica de mãe, ver se está limpo e arrumado… O que me surpreende
é quando eu ouço um grito dela a chamar-me:
- PEDRO! PORQUE É
QUE A TUA EMPREGADA ESTÁ NUM ESTADO HORRÍVEL A TRABALHAR?
A verdade é que
aquela pergunta era totalmente ridícula. Em primeiro lugar, o que havia naquele
apartamento mais próximo de uma empregada, era uma senhora velhota que ia fazer
uma limpeza na casa, logo não deveria estar a trabalhar “num estado horrível”,
era uma avozinha que se arranjava minimamente. Em segundo lugar, desde que
namoro com a Inês, ela “obrigou” a mim e ao Rapha a reduzirmos o horário da
senhora e a fazermos mais nós próprios, ou seja, a mulher só lá ia agora um dia
por semana, que tinha sido (salvo erro) ontem. Portanto, não percebi aquela
pergunta…
E,
de novo, uma sensação estranha assombrou-me. Eu corri para a sala e encontrou
uma mulher loira, com um corpo incrível, era a única mulher capaz de parar o
meu mundo. Ela estava com uma das suas roupas de ginásio, toda transpirada e,
de fones no último volume, limpava freneticamente os vidros da minha sala.
Naquele momento, eu esqueci que os meus pais estavam ali, ela precisava de mim.
Todos
nós temos manias e havia algumas muito peculiares na minha namorada. A Inês
acordava com um humor terrível, a não ser que eu a acordasse de uma maneira
específica; a Inês só acordava e ficava bem realmente a seguir a uma boa dose
de café (que também não podia ser preparado de uma forma qualquer); a Inês
mordia o lábio quando ficava nervosa com o meu corpo; a Inês nunca disfarçava o
desejo que sente por mim; a Inês odeia chorar em pública; a Inês adora limpar
vidros, principalmente, quando está com uma crise de nervos e pânico, depois de
gastar todas as energias com horas de ginásio e dança. A minha miúda tinha
pedido a tarde de folga sem me dizer nada, queimou calorias até dizer chega no
ginásio e agora está a limpar vidros na minha casa, ou seja, ela precisa MESMO
de mim.
Lado
a lado com ela, coloquei a mão no ombro dela, tirei o fone do ouvido e
sussurrei:
-
Eu estou aqui, amor.
Se
eu dissesse que estava preocupado com ela até aí, depois de ver os olhos dela
tão vermelhos e o rosto lavado em lágrimas diria que essa mesma preocupação
aumentou umas 10 vezes mais. Aqueles olhos diziam que ela estava no foço e o
abraço sufocante dela em mim era mais uma prova disso mesmo. Eu só queria poder aliviar aquele sofrimento...
Indico para todas lerem um blog lindo com uma fic que tem tudo para ser espetacular (já o está a ser). Leiam, comentem e sigam o blog da Joana ( http://benfasorgulho.blogspot.pt/ )
Hallo! Mais um capítulo aqui, espero que gostem... Vou tentar acelerar um pouco, para ver se mais ideias surgem e mais coisas acontecem.
Agradeço às 3 meninas que comentaram no meu último capítulo e espero continuar a ter alguns comentários...
Beijinhos,
Rita B.
Olá!
ResponderEliminarGostei muito do capítulo, só é "pena" a situação da Inês, ela puder estar a ficar doente de novo, além do mais tem medo de contar ao Pedro, o que eu percebo, mas de certo modo complica a situação.
Beijinhos, espero pelo próximo!
Tou completamente em falha contigo, só vi agora que já tinha atualizado, peço imeeeeeensa desculpa! Obrigada por divulgares, obrigada pelos elogios e tenho muito medo que a Inês adoeça de novo, só espero que corra tudo bem!
ResponderEliminarBeijinhos